Odontologia - Ortodontia Preventiva com ética, preparo técnico e atuação multidisciplinar

Odontologia - 08.07.2025

Ortodontia Preventiva com ética, preparo técnico e atuação multidisciplinar

No Julho Laranja 2025, especialistas reforçam que nem toda intervenção precoce é sinônimo de cuidado: o diagnóstico qualificado, o uso responsável da tecnologia e a formação integrada são os pilares da prevenção em Ortodontia

O cuidado preventivo não se resume à antecipação do tratamento. Exige vigilância clínica qualificada, compreensão profunda do crescimento facial, domínio técnico, clareza na comunicação e, sobretudo, respeito ao tempo biológico da criança
O cuidado preventivo não se resume à antecipação do tratamento. Exige vigilância clínica qualificada, compreensão profunda do crescimento facial, domínio técnico, clareza na comunicação e, sobretudo, respeito ao tempo biológico da criança

A Ortodontia Preventiva vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões sobre saúde bucal infantil. O que antes era visto como algo restrito à correção estética dos dentes, hoje se consolida como uma estratégia clínica para acompanhar o crescimento facial, prevenir alterações funcionais e evitar tratamentos prolongados ou invasivos no futuro.

Mas junto com o avanço da conscientização, surgem também os excessos. A banalização dos tratamentos ortodônticos em crianças acende um alerta entre os especialistas. Para o coordenador do curso de pós-graduação em Ortodontia da Faculdade de Odontologia da APCD (FAOA), Prof. Maxwell Albuini, o papel do ortodontista vai muito além da instalação de aparelhos: é preciso atuar com ética, formação crítica e responsabilidade na comunicação com pais e responsáveis. “Cada paciente tem seu próprio ritmo de desenvolvimento. Iniciar tratamento antes do tempo pode ser ineficaz ou até prejudicial”, afirma.

Diante do número crescente de crianças submetidas a intervenções em idades cada vez mais precoces, ele reforça que a conduta profissional deve ser baseada em evidências científicas e jamais em pressões mercadológicas. “A Ortodontia Interceptiva é valiosa, porém em muitos casos requer a complementação da Ortodontia Corretiva. O profissional deve ser honesto quanto às reais possibilidades de cada fase.”

O cuidado preventivo não se resume à antecipação do tratamento. Exige vigilância clínica qualificada, compreensão profunda do crescimento facial, domínio técnico, clareza na comunicação e, sobretudo, respeito ao tempo biológico da criança. “Toda conduta deve priorizar a saúde, o conforto e o desenvolvimento integral do paciente, considerando também aspectos emocionais e sociais”, completa o Dr. Maxwell.

Tecnologia e integração: pilares da prática preventiva

A incorporação de tecnologias digitais e o diálogo com outras especialidades são elementos centrais na prática preventiva contemporânea. Para a também coordenadora de curso de pós-graduação em Ortodontia na FAOA, Profa. Juliana Gaschler, esses recursos ampliam a capacidade diagnóstica e tornam o cuidado mais preciso e humanizado.

“O escaneamento intraoral, por exemplo, permite capturas rápidas, precisas e não invasivas, sendo ideal para pacientes infantis, os quais sofrem com as moldagens convencionais. Isso não só melhora a experiência da criança no consultório como também oferece maior acurácia na análise das estruturas dentárias e oclusais”, explica.

Ela destaca ainda o papel dos softwares de análise facial no acompanhamento do crescimento craniofacial. “Eles possibilitam uma avaliação mais objetiva e detalhada das características individuais do paciente, ajudando a identificar assimetrias, padrões de crescimento atípicos e alterações esqueléticas de forma precoce. Esses dados são importantes para o planejamento de intervenções ortopédicas ou ortodônticas preventivas, muitas vezes em colaboração com outras especialidades.”

Integração entre especialidades amplia os resultados clínicos

Além do suporte tecnológico, a atuação preventiva exige olhar atento às múltiplas causas que impactam o desenvolvimento da face e da oclusão. É nesse ponto que a integração com outras especialidades se torna indispensável para a efetividade do diagnóstico e das intervenções.

A Dra. Juliana enfatiza que as alterações oclusais precoces frequentemente estão associadas a causas multifatoriais, como respiração oral, deglutição atípica, hábitos orais, alterações miofuncionais e padrões comportamentais. “A interação com profissionais da Fonoaudiologia, Otorrinolaringologia, Psicologia e até Fisioterapia tem se mostrado fundamental para um diagnóstico mais completo e para intervenções mais eficazes”, afirma. “A atuação conjunta não apenas melhora as finalizações clínicas, como também contribui para evitar recidivas e tratamentos prolongados no futuro.”

Se na clínica a interdisciplinaridade já é uma realidade, no ensino da Ortodontia ela ainda precisa avançar. “Embora algumas instituições de ensino já incluam conteúdos interdisciplinares na grade curricular, na maioria das vezes essa vivência ocorre na prática clínica e através da educação continuada. No nosso curso, por exemplo, trazemos profissionais de outras áreas para ministrarem aulas e também incorporamos conteúdo interdisciplinar nas disciplinas”, conta a Dra. Juliana. “Incentivar uma formação mais integrada desde a graduação é, sem dúvida, um passo essencial para formar profissionais mais preparados para os desafios da Ortodontia moderna.”

O professor Maxwell complementa essa visão ao detalhar os pilares da formação oferecida na FAOA. Segundo ele, preparar o ortodontista para atuar com prevenção exige muito mais do que habilidades técnicas. “A abordagem precisa ser dinâmica, integrada e voltada para a excelência”, afirma. Isso inclui desde o domínio de tecnologias auxiliares de diagnóstico — como radiografias digitais, tomografias de feixe cônico e escaneamento intraoral — até a compreensão do crescimento craniofacial e sua relação com outras áreas da saúde.

Além disso, ele destaca a importância da formação científica e do pensamento crítico. “Os especialistas precisam ser capazes de analisar artigos científicos, revisar evidências, avaliar protocolos clínicos e utilizar esses dados para tomar decisões informadas e baseadas em evidências. Também devem estar prontos para adaptar os tratamentos às novas descobertas, sempre com um olhar voltado à segurança e eficácia.”

A clínica supervisionada desde os primeiros estágios da especialização e o estímulo à educação continuada — por meio de congressos, workshops e trocas de experiências — completam o modelo de formação que a FAOA vem desenvolvendo. “Capacitamos o profissional a identificar, tratar e orientar sobre as condições ortodônticas desde as fases iniciais do desenvolvimento, minimizando a necessidade de tratamentos invasivos e custos a longo prazo”, conclui Dr. Maxwell.

Por Swellyn França