Odontologia - Fitoterapia na Odontologia: entre o saber ancestral e a ciência contemporânea

Odontologia - 13.11.2025

Fitoterapia na Odontologia: entre o saber ancestral e a ciência contemporânea

Pesquisa científica de excelência e produtos inovadores contrastam com formação deficiente e desconhecimento da regulamentação. Especialistas apontam caminhos para integrar tradição e ciência.

Revista da APCD traz Fitoterapia na Odontologia como tema de capa
Revista da APCD traz Fitoterapia na Odontologia como tema de capa

O Brasil possui a maior biodiversidade do planeta e pesquisa científica de excelência em fitoterapia odontológica. Mesmo assim, 17 anos após a Resolução CFO 82/2008 que regulamentou a prática, a formação profissional segue limitada. Na região Nordeste, apenas quatro instituições oferecem o componente curricular de Fitoterapia, segundo o Prof. Dr. Fábio Correia Sampaio (UFPB), coordenador do NEPIBIO.

No Sudeste, a situação não é diferente. Estudo publicado na HU Revista revelou que a maioria das instituições não oferece nenhuma disciplina sobre práticas integrativas e complementares. Quando existe, tende a ser optativa e teórica.

"Muitos Cirurgiões-Dentistas desconhecem até mesmo a Resolução CFO 82/2008, de mais de 15 anos, assim como as 71 plantas do RENISUS", alerta o Prof. Dr. Fábio Sampaio.

Ciência robusta, aplicação limitada

O Prof. Dr. Pedro Luiz Rosalen (Unicamp/Unifal), referência internacional em fitoterapia odontológica, mapeia resultados consistentes: a curcumina demonstrou reduzir placa e gengivite de forma significativa, as catequinas do chá-verde apresentam evidências promissoras como adjuvantes à raspagem radicular, e a própolis brasileira conquistou espaço em periódicos de alto impacto internacional.

"A própolis brasileira, especialmente a verde e a vermelha, tem conquistado reconhecimento internacional pela composição singular", destaca Rosalen.

Da pesquisa à inovação, o Brasil já desenvolve produtos concretos. O Prof. Fábio Sampaio apresenta fios de sutura antimicrobianos com óleos essenciais desenvolvidos pela UFPB, já em fase de incubação em startup com financiamento do CNPq, além de verniz de copaíba da UFC e emulsão de copaíba como biomodificador dentinário da UFAM.

Experiência clínica: tradição e evidência em diálogo

O Prof. Dr. Irineu Gregnanin Pedron (CROSP), mestre em Ciências Odontológicas e membro das Câmaras Técnicas de Periodontia e Fitoterapia do CROSP, une herança familiar com formação científica. Há 50 anos, seu pai foi orientado por uma paciente raizeira sobre o barbatimão para abscessos.

"Prescrevo os bochechos da decocção de barbatimão para abscessos e afecções estomatológicas que apresentam supuração. O efeito adstringente literalmente 'seca' previamente os abscessos e fístulas, favorecendo a instituição dos tratamentos odontológicos", explica Pedron.

A Dra. Célia Regina Lulo Galitese, membro da CT de Fitoterapia do CROSP desde 2006 e com quase quatro décadas de experiência, observa crescente interesse: "Os pacientes se colocam abertos para vivenciar algo seguro e mais natural quando são informados sobre as opções."

O Prof. Dr. Itamar Francisco Teixeira (CROSP), doutor em Ciências Odontológicas Integradas, trabalha a fitoterapia em contextos comunitários e voluntários: "Ela respeita a abordagem do cuidado centrado na pessoa e valoriza o conhecimento popular do paciente."

Confusões conceituais e desafios técnicos

O Cirurgião-Dentista André Santos, habilitado em Fitoterapia, identifica confusões frequentes: "Muitos profissionais confundem fitoterapia com homeopatia ou aromaterapia. Outros acreditam estar praticando fitoterapia ao utilizar suplementos alimentares ou cosméticos à base de plantas."

O Prof. Pedro Rosalen estabelece princípio fundamental: "Natural não significa inócuo. A avaliação toxicológica precisa ser tão rigorosa quanto a aplicada aos fármacos convencionais."

Entre os desafios técnicos, o Prof. Fábio Sampaio destaca a complexidade específica da Odontologia: "Estamos interessados em efeitos tópicos, intrabucais, com princípios ativos que tenham substantividade, estáveis em diferentes pH, sem sofrer interferência de enzimas salivares e que não causem manchamento dental."

Caminhos para o futuro

"O Brasil pode assumir papel de liderança. Temos biodiversidade extraordinária e já demonstramos capacidade científica para explorá-la de forma responsável", projeta o Prof. Pedro Rosalen.

O desafio, segundo os especialistas, passa por integração curricular na graduação, protocolos clínicos baseados em evidências, ensaios clínicos multicêntricos robustos e diálogo permanente com órgãos reguladores.

A Dra. Célia Lulo sintetiza: "O termo 'integrativo' exprime claramente que esse conhecimento vem para compor com a ciência, não para depô-la."

Leia a matéria completa na Revista da APCD e conheça em detalhes as experiências dos profissionais entrevistados e o caminho para integrar ciência e tradição na prática odontológica brasileira.