Odontologia - Controle glicêmico e segurança no atendimento odontológico de pacientes diabéticos

Odontologia - 14.11.2025

Controle glicêmico e segurança no atendimento odontológico de pacientes diabéticos

O Diabetes Mellitus é uma das doenças crônicas mais prevalentes do mundo e exige acompanhamento constante e atenção especial em diferentes áreas da saúde, inclusive na Odontologia

Um simples teste capilar pode evitar emergências. Muitos pacientes não têm ideia de que estão com glicemia acima do ideal e, nesses casos, o Cirurgião-Dentista pode ser o primeiro profissional a identificar o risco
Um simples teste capilar pode evitar emergências. Muitos pacientes não têm ideia de que estão com glicemia acima do ideal e, nesses casos, o Cirurgião-Dentista pode ser o primeiro profissional a identificar o risco

No Dia Mundial do Diabetes, celebrado em 14 de novembro, a data reforça a importância de integrar o cuidado médico e odontológico, especialmente quando se trata de planejar atendimentos e procedimentos em pacientes com a doença.

A relação entre diabetes e saúde bucal é estreita. A glicemia descompensada pode comprometer a reparação tecidual, favorecer infecções e aumentar o risco de sangramentos e intercorrências durante o atendimento odontológico. Para o endocrinologista Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (ANAD) e da Federação Nacional de Entidades e Associações de Diabetes (FENAD), compreender essa interação é fundamental para garantir a segurança clínica.“Antes d e iniciar qualquer procedimento cirúrgico, é imprescindível que o paciente esteja com glicemia estabilizada, pois tanto a anestesia quanto o estresse do procedimento podem elevar o cortisol e descompensar o quadro metabólico”, explica. Segundo ele, cerca de 70% das pessoas com diabetes também apresentam hipertensão, o que exige ainda mais cuidado com a pressão arterial e o uso de anestésicos. “Essas medidas simples — verificar a glicemia capilar, avaliar a pressão e revisar os horários da medicação — evitam riscos e tornam o atendimento odontológico mais seguro”, completa.

O diretor do Departamento de Periodontia do Conselho Científico (COCI) da APCD, Dr. Ricardo Schmitutz Jahn, observa que o Cirurgião-Dentista ocupa posição estratégica no manejo desses pacientes. “Um simples teste capilar pode evitar emergências. Muitos pacientes não têm ideia de que estão com glicemia acima do ideal e, nesses casos, o Cirurgião-Dentista pode ser o primeiro profissional a identificar o risco”, comenta. Ele ressalta que a avaliação odontológica deve sempre considerar o estado metabólico geral, já que a glicemia elevada altera o metabolismo do colágeno e o comportamento das células inflamatórias, interferindo na cicatrização.

Essas alterações fazem com que o paciente diabético apresente maior propensão a doenças periodontais, xerostomia e infecções oportunistas, como a candidíase oral. “A diabetes, seja tipo 1, pela deficiência na produção de insulina, ou tipo 2, pela resistência à sua ação, impacta diretamente o equilíbrio imunológico e o processo inflamatório. Isso torna a cavidade bucal mais vulnerável”, detalha o Dr. Jahn.
O periodontista explica que o inverso também é verdadeiro: “Processos inflamatórios crônicos da cavidade bucal podem contribuir para o aumento da resistência à insulina, agravando o quadro sistêmico. É uma via de mão dupla, em que o controle de uma condição influencia o controle da outra.”

Em situações de descompensação glicêmica, o risco de hipoglicemia durante o atendimento também deve ser considerado. Por isso, recomenda-se que as consultas ocorram preferencialmente pela manhã, após a refeição, e que sejam mais curtas, evitando longos períodos de jejum. O uso de anestésicos com vasoconstritor ou de antibióticos deve ser analisado caso a caso, levando em conta o histórico clínico e a complexidade do procedimento.
“Planejar o atendimento com base no controle glicêmico e no histórico do paciente é o melhor caminho para um tratamento previsível e seguro”, reforça o Dr. Jahn.

A comunicação entre o Cirurgião-Dentista e o médico responsável pelo acompanhamento do paciente é outro ponto essencial. “O Cirurgião-Dentista precisa saber se o paciente está com a glicemia controlada e quais medicamentos utiliza. Quando há dúvida, o contato com o médico assistente é o caminho mais seguro”, destaca o Dr. Fadlo Fraige. Essa troca de informações permite decisões mais seguras e integradas, reduzindo riscos tanto durante o procedimento quanto no pós-operatório.

Além do impacto clínico, a colaboração entre Cirurgiões-Dentistas e endocrinologistas favorece também o controle metabólico global. Estudos têm mostrado que o tratamento periodontal pode melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir os níveis de glicemia a longo prazo, demonstrando que a saúde bucal exerce influência direta sobre o equilíbrio sistêmico.

“O Cirurgião-Dentista é parte fundamental da equipe multiprofissional que acompanha o paciente diabético. Ao prevenir infecções, orientar sobre higiene oral e reconhecer sinais de descompensação, ele contribui não só para a saúde bucal, mas para o controle da doença como um todo”, ressalta o Dr. Jahn.

O controle glicêmico, nesse contexto, deixa de ser uma responsabilidade exclusiva da medicina. Ele se torna um elo essencial entre a Odontologia e a saúde geral, reforçando que o cuidado integral depende de uma atuação compartilhada — com atenção, preparo e diálogo entre todos os profissionais que cuidam do paciente diabético.

Por Swellyn França