Pacientes em foco - 11.10.2024
Saúde bucal infantil: cuidando desde os primeiros anos para garantir um futuro saudável
O Dia das Crianças, comemorado em 12 de outubro, é uma oportunidade não apenas de celebrar a alegria da infância, mas também de refletir sobre o bem-estar dos pequenos. Parte essencial desse cuidado é a saúde bucal, que deve começar já nos primeiros meses de vida.
A saúde bucal influencia o desenvolvimento da criança em diversos aspectos, como a mastigação, a respiração, a fala e até mesmo a autoestima. Nesse contexto, a primeira consulta odontológica é um passo crucial para garantir que o sorriso infantil se desenvolva de forma saudável.
De acordo com a Prof. Dra. Márcia Moreira, odontopediatra e diretora do Departamento de Odontopediatria do Conselho Científico (COCI) da APCD, poucas mães levam seus filhos ao odontopediatra no primeiro ano de vida. "É um contrassenso, pois as mães observam a boquinha de seus filhos e acreditam que está tudo bem; levam as crianças ao pediatra, mas não ao odontopediatra. Até os próprios pediatras raramente recomendam uma visita ao especialista. A crença comum é que, se a criança não aparenta problemas, não precisa de um odontopediatra", explica.
Segundo a Dra. Márcia, essa falta de conscientização faz com que os bebês sejam levados ao especialista apenas quando já apresentam problemas, como cárie, traumas dentários ou outras patologias visíveis. Ela enfatiza que é essencial preparar as gestantes com ações educativas e de promoção de saúde, para que saibam da relevância da amamentação exclusiva até os seis meses e de sua continuidade até os dois anos, conforme orientado pelo Ministério da Saúde. "A amamentação não só protege a saúde sistêmica do bebê, como também contribui para o desenvolvimento cerebral, fortalece o sistema imunológico, estabelece um padrão respiratório adequado e protege contra a obesidade infantil e o diabetes. Além de promover a saúde sistêmica, o aleitamento materno é fundamental para o desenvolvimento orofacial”, ressalta.
Dra. Márcia explica que as consultas odontopediátricas nos primeiros meses de vida, junto com as orientações às gestantes, são essenciais para prevenir cárie, promover uma dieta saudável e evitar hábitos como o uso de chupeta e mamadeira. “Essas consultas ensinam a importância da higiene bucal para a saúde geral da criança, previnem cárie, promovem o desenvolvimento adequado da oclusão dentária e corrigem precocemente desvios, como mordida aberta ou cruzada e atresias da maxila”, afirma.
Prevenção e intervenção precoces
Para a também especialista em Odontopediatria e Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, Prof. Dra. Leda Regina Fernandes Mugayar, professora associada e coordenadora da Clínica de Cuidados Inclusivos da Faculdade de Odontologia da Universidade de Illinois Chicago, “a prevenção e a intervenção precoces desempenham um papel crucial na promoção da saúde e bem-estar, especialmente em populações vulneráveis, como bebês e crianças com necessidades especiais de saúde. Esses primeiros anos de vida são decisivos para o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional, e as intervenções nesse período podem ter impactos duradouros.”
Ela afirma que, prevenir problemas de saúde desde o início evita complicações futuras, reduz a necessidade de tratamentos invasivos e diminui os custos para o sistema de saúde. “A detecção precoce de condições de saúde, sejam elas genéticas, ambientais ou relacionadas ao desenvolvimento, permite intervenções rápidas e mais eficazes. Por exemplo, identificar atrasos no desenvolvimento motor ou cognitivo em bebês pode levar a terapias que favorecem um desenvolvimento mais adequado, otimizando suas capacidades e reduzindo o risco de dificuldades a longo prazo”, alerta Dra Leda.
Principais problemas bucais em crianças
Quando se trata de problemas de saúde bucal em crianças e adolescentes, conforme detalha a Dra. Leda, os principais deles incluem cárie dentária, doenças gengivais, má oclusão (desalinhamento dos dentes), traumas dentários e, em alguns casos, problemas relacionados ao desenvolvimento dos dentes, como a erupção tardia ou a perda precoce. “Esses problemas podem impactar significativamente o crescimento e o desenvolvimento físico, psicológico e intelectual dos jovens, além de afetar a qualidade de vida e o bem-estar familiar. A cárie é uma das condições crônicas mais comuns em crianças e adolescentes. Ela pode causar dor intensa, dificuldades para mastigar e falar, além de afetar a autoestima. Quando a alimentação é prejudicada por dor ou desconforto, isso pode levar à desnutrição e afetar o crescimento físico; Doenças gengivais são menos comuns em crianças, mas podem aparecer na adolescência devido a hábitos inadequados de higiene bucal. A inflamação e o sangramento das gengivas podem causar desconforto e, se não tratadas, levar à perda de dentes; A má oclusão, ou seja, o desalinhamento dos dentes e arcos maxilares (maxila e mandíbula) pode interferir na fala, na mastigação e até na respiração. Além dos efeitos físicos, pode impactar a autoestima, especialmente durante a adolescência, uma fase em que a aparência tem um papel importante no desenvolvimento psicológico; Traumas dentários: crianças e adolescentes são frequentemente expostos a acidentes, que podem resultar em fraturas ou perda de dentes. Esses traumas podem ter efeitos imediatos e a longo prazo na saúde bucal e no bem-estar psicológico.
Impacto na qualidade de vida e bem-estar familiar
A dor, o desconforto e o estresse que os problemas bucais causam nas crianças, podem prejudicar seu rendimento escolar, sono e alimentação. “A dor e as visitas frequentes ao Cirurgião-Dentista afetam diretamente o bem-estar psicológico e emocional, tanto das crianças quanto de seus familiares. Além disso, problemas bucais podem gerar um impacto financeiro significativo, já que os tratamentos dentários podem ser caros, especialmente se não houver prevenção adequada. As famílias, muitas vezes, enfrentam dificuldades para lidar com essas questões, o que pode gerar ansiedade e frustração. O sofrimento da criança também pode criar uma dinâmica familiar de preocupação constante, afetando o bem-estar emocional do núcleo familiar”, completa a Dra. Leda.
Estratégias de prevenção
A Dra. Márcia enfatiza que o cuidado com a saúde bucal infantil é essencial para reduzir os problemas dentários na população adulta. "Cuidar das nossas crianças hoje resultará em adultos mais saudáveis no futuro, com hábitos alimentares melhores e um autocuidado eficiente”, acrescenta.
Para a Dra. Leda, a prevenção promove uma abordagem holística à saúde, focando não apenas no tratamento de doenças, mas também na promoção de hábitos saudáveis desde cedo. “Isso inclui a nutrição adequada, vacinação, acompanhamento médico regular e apoio ao desenvolvimento emocional e social da criança. Em resumo, a prevenção e a intervenção precoce são fundamentais para garantir que bebês e crianças com necessidades especiais de saúde alcancem seu máximo potencial, prevenindo problemas maiores no futuro e contribuindo para uma melhor qualidade de vida.”
O uso do flúor e o medo do Cirurgião-Dentista
Sobre o uso do flúor, a Dra. Márcia esclarece que, embora o mineral seja crucial no controle de cárie e na proteção do esmalte dentário, o uso do creme dental deve ser supervisionado. “No consultório, quando mostro a quantidade correta – semelhante a meio grão de arroz para bebês, um grão de arroz para crianças de 3 a 5 anos e a mesma quantidade para crianças a partir dos 6 anos –, muitos pais se surpreendem. Além disso, o flúor deve ser introduzido após a criança aprender a cuspir corretamente o creme dental. Por isso, é importante que as famílias compreendam a necessidade de evitar a ingestão de pasta de dente, que deve ser feita somente em pequenas quantidades e sob supervisão, para não causar fluorese”.
Dra. Márcia também comenta sobre o medo do Cirurgião-Dentista que muitas crianças sentem. Para ela, isso pode ser abordado em casa, com os pais compartilhando suas experiências e transmitindo a importância da saúde bucal. “É necessário desmistificar a figura do Cirurgião-Dentista. Contar histórias de visitas ao profissional de forma leve e positiva ajuda a reduzir a ansiedade da criança”, sugere.
O papel dos pais na higiene bucal
Um ponto fundamental é a participação ativa dos pais na higiene bucal dos filhos.
Como os pais podem se envolver ativamente na higiene bucal dos filhos:
- Desde cedo: Os cuidados bucais devem começar já nos primeiros meses de vida. Antes mesmo do surgimento dos dentes, é importante limpar as gengivas do bebê com uma gaze ou pano úmido para remover resíduos de leite. Assim, a criança começa a se acostumar com a rotina de higiene.
- Supervisão e assistência na escovação: Até os 7 ou 8 anos, as crianças ainda não têm a coordenação motora necessária para escovar os dentes de maneira eficaz. Os pais devem escovar os dentes dos filhos ou supervisionar de perto, garantindo que a escovação seja feita por pelo menos 2 minutos, com movimentos adequados e uso de creme dental fluoretado.
- Criar uma rotina divertida: Envolver as crianças de forma lúdica, usando músicas, jogos ou cronômetros, pode tornar a escovação mais divertida e incentivar o hábito diário. Quando a escovação se torna um momento agradável, a criança tende a adotar esse comportamento como parte de sua rotina.
- Limitar o consumo de açúcar: Uma dieta equilibrada, com a redução de açúcar e alimentos pegajosos, ajuda a prevenir a cárie dentária. Ensinar as crianças a importância de uma alimentação saudável desde cedo contribui para a saúde bucal e geral.
- Visitas regulares ao Cirurgião-Dentista: Marcar consultas odontológicas a cada 3 ou 6 meses, começando a partir do primeiro ano de vida, é fundamental para que as crianças desenvolvam uma relação positiva com o profissional e possam receber cuidados preventivos.
- Educação sobre saúde bucal: Conversar sobre a importância de cuidar dos dentes, como evitar alimentos prejudiciais e a relevância da escovação diária, ajuda a criar consciência sobre a saúde bucal. Crianças informadas são mais propensas a se envolver ativamente em sua própria saúde.
O cuidado com a saúde bucal infantil é um investimento no futuro das crianças. Ao promover hábitos saudáveis desde cedo e garantir que tenham acesso a cuidados odontológicos, os pais ajudam a moldar adultos saudáveis e conscientes sobre a importância da saúde bucal.
Por Swellyn França