Pacientes em foco - Outubro Rosa: a Odontologia no cuidado integral que vai além da saúde bucal

Pacientes em foco - 27.10.2025

Outubro Rosa: a Odontologia no cuidado integral que vai além da saúde bucal

Especialistas reforçam papel estratégico do cirurgião-dentista no tratamento de pacientes oncológicas e na promoção da saúde integral da mulher

O acolhimento como parte do tratamento
O acolhimento como parte do tratamento

O Outubro Rosa é um momento de conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Mas é também uma oportunidade para refletir sobre o cuidado integral da saúde da mulher. Nesse contexto, a Odontologia desempenha um papel estratégico que vai muito além da cavidade oral, atuando antes, durante e depois do tratamento oncológico.

"O tratamento odontológico oncológico oferece suporte importante prevenindo ou mitigando os efeitos colaterais na boca provocados pela quimioterapia e radioterapia quando abrange a região bucal", explica a Dra. Sofia Takeda Uemura, diretora da Faculdade de Odontologia da APCD (FAOA) e especialista em Odontopediatria e Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais. Segundo ela, o Cirurgião-Dentista deve integrar-se à equipe de saúde da paciente — oncologista, psicólogo, nutricionista — garantindo que o plano de tratamento odontológico esteja alinhado com o tratamento oncológico.

A Dra. Magda Siqueira, especialista em Dentística Restauradora e Endodontia pela Faculdade de Odontologia de Araraquara (FOAr-Unesp) e membro da Câmara Técnica de Ozonioterapia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), reforça que o Cirurgião-Dentista é, muitas vezes, o profissional de saúde que mantém contato mais próximo e frequente com o paciente. "Essa relação de confiança transforma o consultório odontológico em um verdadeiro espaço de acolhimento, escuta ativa e educação em saúde", afirma.

O acolhimento como parte do tratamento

Para a Dra. Sofia, o acolhimento humanizado é fundamental para qualquer paciente que procura tratamento odontológico, mas ganha relevância ainda maior no contexto oncológico. "Entender a dor daquele que nos procura é o primeiro passo para o sucesso do tratamento, não importa qual o tamanho do seu problema. Especificamente para a paciente que está passando por um tratamento de câncer de mama, o acolhimento com empatia e escuta ativa transformam a consulta odontológica em um momento de cuidado integral, que considera não apenas sua saúde bucal, mas também seu bem-estar emocional", destaca.

A Dra. Magda complementa essa visão ao enfatizar que a Odontologia tem uma função transformadora na autoestima e na confiança das pacientes. "Ela não apenas restabelece a forma e a estética dos dentes, mas também reabilita o sorriso e a autoconfiança, o que é essencial durante e após o tratamento de doenças como o câncer. Um sorriso saudável desperta esperança, coragem e identidade", ressalta.

Segundo a especialista, ao cuidar da boca, cuida-se de todo o corpo. "A saúde bucal está diretamente conectada à saúde geral: desde a embriologia, a cavidade oral influencia o desenvolvimento neuromuscular e esquelético, participando de funções vitais como sugar, deglutir, respirar e mastigar — funções que moldam o crescimento das arcadas, da face e o equilíbrio postural. Promover saúde bucal é também promover boa respiração, postura equilibrada, digestão adequada e qualidade de vida", explica.

Cuidados em cada fase do tratamento

A Dra. Sofia detalha que, antes do tratamento oncológico, é importante a detecção e remoção de focos de infecção, tratamento das lesões de cárie e das doenças gengivais. "A orientação de cuidados de higiene deve considerar as necessidades durante o tratamento oncológico, como indicação de cremes dentais, bochechos e escovas dentais adequados para as possíveis alterações que o tratamento provocará no meio bucal", orienta.

Durante o tratamento oncológico, o acompanhamento odontológico tem como objetivo manter a saúde bucal, gerenciar os efeitos colaterais, manter a alimentação e proporcionar alívio e conforto. "A quimioterapia, além de possuir ação sobre as células cancerígenas, atua sobre as células hematopoiéticas causando alterações hematológicas. Diferente da radioterapia, tem ação sistêmica, podendo causar efeitos local e sistemicamente durante os períodos de imunossupressão", explica a especialista.

Entre os efeitos adversos mais comuns estão mucosite, boca seca, alteração de paladar e infecções oportunistas (fúngica e viral), que além de trazer dor e desconforto podem provocar a interrupção do tratamento.

 "A mucosite é uma inflamação da mucosa, tecido que reveste toda a cavidade bucal e a orofaringe, causando dor, vermelhidão e úlceras, e pode dificultar a alimentação e a deglutição.

A boca seca, decorrente da diminuição da produção de saliva, também dificulta a alimentação, altera o paladar e aumenta o risco de cárie, doenças gengivais e infecções. Nesta etapa, cuidados odontológicos podem prevenir, diminuir a gravidade e tratar esses efeitos adversos", detalha a Dra. Sofia.

Após o tratamento oncológico, o acompanhamento odontológico periódico visa manter a higienização adequada e o monitoramento da cavidade bucal em relação a possíveis complicações tardias, mantendo a saúde da paciente.

A Dra. Magda destaca que, com as tecnologias modernas e pesquisas de última geração, é possível hoje atuar na prevenção, no diagnóstico precoce e em tratamentos conservadores que aliviam dor e estresse, melhoram a qualidade do sono e promovem o equilíbrio físico e emocional. "Ser um agente ativo de empatia é ouvir, acolher e orientar — e é nesse gesto simples que reside o verdadeiro poder da Odontologia", afirma.

Práticas integrativas e o cuidado ampliado

No contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), a atuação odontológica se fortalece com a presença das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS). Institucionalizadas pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), o SUS oferece gratuitamente 29 práticas à população — entre elas ozonioterapia, acupuntura, fitoterapia, meditação, reiki e aromaterapia.

Essas abordagens reforçam uma visão ampliada e humanizada do processo saúde-doença, na qual o foco não é apenas tratar, mas ensinar o paciente a reconhecer o que é saudável, prevenindo o adoecimento. Segundo a Dra. Magda, a Odontologia inserida nesse contexto integrativo contribui para o bem-estar da mulher em todas as fases da vida, da gestação à maturidade, respeitando sua individualidade e seu ritmo.

Para a Dra. Sofia, é fundamental que o profissional também cuide de si para oferecer o melhor cuidado. "Preciso estar bem para que eu possa oferecer cuidados a alguém. Nesse sentido é importante o autocuidado traduzido em saúde física e saúde emocional. É preciso saber lidar com as emoções, é preciso aprender a exercer a compaixão sem absorver o sofrimento alheio, não confundir empatia com envolvimento emocional", orienta.

A especialista alerta que, numa situação de dor e sofrimento, é necessário manter o equilíbrio emocional para tomar as melhores decisões para a saúde da paciente. "Quando acolhemos pacientes oncológicos temos que lidar com a culpa por não conseguirmos realizar um tratamento tecnicamente perfeito. Uma paciente em tratamento oncológico muitas vezes não consegue colaborar adequadamente para os procedimentos odontológicos. Temos que lidar com a frustração e a impotência diante da doença", reconhece.

No entanto, a Dra. Sofia reforça que o profissional está contribuindo para que a paciente enfrente a doença e o tratamento da melhor forma possível, com conforto e dignidade.

"O Cirurgião-Dentista que educa para o autocuidado e pratica a escuta com sensibilidade contribui para a transformação da saúde e da vida de suas pacientes. Porque cuidar da boca é cuidar do ser humano em sua totalidade — e cada sorriso restaurado é um ato de amor, prevenção e esperança.", conclui a Dra Magda.

Por Swellyn França