Pacientes em foco - 06.09.2017
Novo remédio para insuficiência cardíaca chega às farmácias do Brasil
Chega esta semana às farmácias brasileiras uma nova classe de remédio para tratar a insuficiência cardíaca que, segundo estudos, é capaz de reduzir em 20% o índice de morte desses pacientes e em 21% o número de internações. Isso promete melhorar muito o difícil prognóstico enfrentado até hoje por quem tem insuficiência cardíaca — apenas metade dessas pessoas está viva cinco anos após o diagnóstico.
O medicamento, chamado de Entresto — feito com as substâncias sacubitril e valsartana —, surgiu a partir de um estudo realizado na Escócia, teve aprovação nos Estados Unidos e na Europa cerca de dois anos atrás e conseguiu, agora, a definição de seu preço em terras brasileiras, após obter a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Uma caixa com 28 comprimidos do medicamento custa R$ 147.
A insuficiência cardíaca é uma doença debilitante e com alto risco de morte, já que o coração se torna incapaz de bombear a quantidade suficiente de sangue para o organismo. Isso acontece porque os músculos se tornam fracos ou rígidos demais para trabalhar de maneira adequada. Como consequência, as hospitalizações dos pacientes são frequentes.
O problema atinge cerca de 3 milhões de pessoas no Brasil. Informações do DataSUS, do Governo Federal, em 2015, registraram 219 mil internações por insuficiência cardíaca. O custo da doença para a economia mundial chega a US$ 108 bilhões por ano — o equivalente a mais de R$ 342 bilhões, uma cifra espantosa. Para o Brasil, o impacto na economia é de R$ 22 bilhões.
A insuficiência cardíaca é a segunda causa de hospitalização em pessoas acima de 65 anos, e a taxa de mortalidade é maior do que a de vários tipos de câncer. Uma pesquisa do Departamento de Insuficiência Cardíaca (DEIC) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) traçou o perfil dos brasileiros com insuficiência cardíaca. Entre os principais fatores de risco no país estão: pressão alta (70%), diabetes (34%), histórico de infarto (27%) e insuficiência renal crônica (24%).Essa doença é mais comum em pessoas com mais de 65 anos e acima do peso.
Apesar de os homens apresentarem mundialmente maior prevalência do problema, no Brasil, segundo os dados da SBC, 60% dos pacientes diagnosticados são mulheres.
Renovação no tratamento
Para o principal autor do estudo chamado de Paradigm-HF, que levou ao desenvolvimento do remédio, será possível mudar radicalmente o modo como esses pacientes são tratados a partir de agora. “Os resultados impressionantes do estudo Paradigm-HF me levam a acreditar que, uma vez aprovado, o LCZ696 [antigo nome do Entresto] poderia rapidamente substituir o principal tratamento utilizado há mais de 20 anos, os inibidores da ECA”, comentou o principal pesquisador, John McMurray, no final de 2015, ocasião em que o Comitê para Produtos Medicinais de Uso Humano (CHMP), órgão europeu, concedeu parecer positivo em relação ao medicamento.
O estudo liderado por McMurray, maior pesquisa clínica já desenvolvida para insuficiência cardíaca, envolveu mais de 8 mil pessoas e comprovou que esse medicamento é mais eficaz do que o que já existe de melhor atualmente, possibilitando que os pacientes acima de 65 anos vivam quase 1,5 ano a mais.
O pedido de aprovação do remédio à Anvisa foi submetido em junho de 2015, e, desde então, a expectativa era disponibilizar o medicamento aos brasileiros ainda no primeiro semestre de 2017.
Os principais sintomas da insuficiência cardíaca são falta de ar, fadiga, retenção de líquidos, inchaços nos tornozelos e pés e dificuldade de dormir, o que impacta de modo significativo a qualidade de vida. Ainda que milhões de pessoas vivam com o problema, a maioria delas tem dificuldade de reconhecer os sintomas ou os associam a sinais do envelhecimento.
Fonte: O Globo