Odontologia - 01.08.2025
Semana Mundial da Amamentação 2025 - Amamentar é investir também na saúde bucal do bebê
Especialistas destacam o papel do Cirurgião-Dentista na prevenção de dificuldades no aleitamento e na promoção do desenvolvimento saudável da face e da cavidade oral

De 1º a 7 de agosto, a Semana Mundial da Amamentação mobiliza profissionais de saúde, famílias e comunidades para reforçar a importância do aleitamento materno. Em 2025, o tema da campanha global, promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e UNICEF, é “Investir na amamentação é investir no futuro” — um chamado para que governos, serviços e a sociedade criem condições que favoreçam a amamentação desde o nascimento.
A OMS recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e continuado até os dois anos ou mais, junto com a introdução de alimentos complementares adequados. Seguir essa orientação poderia evitar mais de 800 mil mortes de crianças menores de cinco anos por ano no mundo. Além dos benefícios nutricionais e imunológicos, o leite materno também favorece o desenvolvimento orofacial — e é nesse ponto que a Odontologia desempenha um papel fundamental.
Quando a boca dá sinais de alerta
Os primeiros meses de vida são um período de intenso aprendizado para mãe e bebê. No entanto, alterações anatômicas ou funcionais podem dificultar a amamentação e exigir avaliação odontológica precoce. “Mandíbula muito retruída, palato alto e estreito, flacidez nos lábios, freios e bridas alterados, tensão muscular no pescoço, limitações na abertura da boca e até a presença de dentes natais ou neonatais podem impactar diretamente a pega e a extração do leite”, explica a Odontopediatra, Dra. Adriana Mazzoni, que atua há mais de 30 anos com Odontologia para bebês e aleitamento materno.
Essas alterações muitas vezes se refletem durante a mamada. “Sucção fraca ou desorganizada, estalos, dificuldade de manter a pega, engasgos, cansaço precoce e ganho de peso insuficiente são sinais de alerta. Também podem resultar em dor e fissuras mamilares na mãe”, complementa a presidente da Câmara Técnica de Odontopediatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dra. Patrícia Valéria Cunha Georgevich.
Segundo ela, o diagnóstico precoce é essencial. “A atuação interdisciplinar, com protocolos clínicos validados, garante um diagnóstico preciso e uma conduta adequada, promovendo uma amamentação eficiente e saudável”, reforça.
A diretora do Departamento de Odontopediatria do Conselho Científico (COCI) da APCD, Dra. Márcia Moreira, que é professora de pós-graduação em Odontopediatria na FAOA, acrescenta que, nos primeiros seis meses, a função primordial da boca é mamar. “O mamar na mãe promove o correto estímulo para o desenvolvimento craniofacial, ajustando a postura mandibular em relação à maxila e ajudando na correção da disto oclusão natural dos recém-nascidos”, afirma.
Mais que nutrição: desenvolvimento e prevenção
A amamentação vai muito além de nutrir. “Ela prepara todo o sistema estomatognático para a mastigação e fala, auxilia no desenvolvimento simétrico do crânio, favorece a coordenação motora bilateral e estimula a respiração nasal. É também um dos maiores movimentos de sustentabilidade e promoção de saúde para mãe e bebê”, ressalta a Dra. Adriana.
Para a Dra. Patrícia, apoiar a amamentação é também prevenir alterações oclusais e respiratórias. “Isso inclui orientar sobre a pega correta, evitar o uso precoce de mamadeiras e chupetas e acompanhar o desenvolvimento orofacial”. Entre as consequências do desmame precoce, ela cita más oclusões, respiração bucal, deglutição atípica, mordida aberta ou cruzada e desequilíbrios no crescimento facial.
A Dra. Márcia reforça que o leite materno é insubstituível. “Ele contém todos os nutrientes que os lactentes precisam, é compatível com suas limitações fisiológicas, não gera custo para a família e protege contra hábitos deletérios, como os associados ao uso de mamadeira e chupeta”. Ela lembra ainda que o leite materno carrega componentes de defesa, como imunoglobulinas e células imunológicas, que ajudam a reduzir morbidades e mortalidade nos dois primeiros anos de vida.
Outro ponto que merece atenção, segundo as especialistas, é que o início da amamentação pode trazer desafios. “No começo, mãe e bebê passam por um processo de aprendizagem que nem sempre é simples. É fundamental que a rede de apoio esteja presente e que, quando necessário, haja intervenção profissional para evitar o desmame precoce”, orienta a Dra. Adriana.
Nesse cenário, o Cirurgião-Dentista tem papel ativo não apenas no diagnóstico e na correção de dificuldades, mas também no acolhimento e orientação às famílias. “Muitas situações que passam despercebidas por outros profissionais podem ser identificadas pelo Odontopediatra. Nosso papel é esclarecer e apoiar para que a amamentação seja bem-sucedida e os benefícios se estendam por toda a vida”, conclui a Dra. Márcia.
Por Swellyn França