Odontologia - 05.08.2025
Saúde começa pela boca: o papel estratégico da Odontologia para a saúde integral
No Dia Nacional da Saúde, especialistas reforçam que não há saúde plena sem saúde bucal e defendem que o Cirurgião-Dentista é peça-chave para o bem-estar físico, social e emocional da população

Celebrado em 5 de agosto, o Dia Nacional da Saúde é mais que uma data no calendário: é um lembrete de que o cuidado com o corpo humano não pode ser fragmentado. E, para a diretora da Faculdade de Odontologia da APCD (FAOA), Dra. Sofia Takeda Uemura, que é especialista em Odontopediatria e Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, essa integração começa pela boca. “Não se segmenta o bem-estar e a integridade das pessoas em saúde bucal e saúde geral. Quando a boca não está saudável, temos inúmeras consequências na condição sistêmica e na qualidade de vida”, afirma.
Essa perspectiva, lembra o coordenador-geral de Saúde Bucal do Ministério da Saúde, Dr. Edson Hilan Gomes de Lucena, é também a base da política pública brasileira. “A saúde bucal é essencial para o cuidado integral porque promove o bem-estar físico, social e emocional, prevenindo doenças, restaurando funções e contribuindo com a qualidade de vida. Não há saúde plena sem saúde bucal”, destaca o Dr. Edson, que é doutor e mestre em Ciências da Saúde.
Na visão de Dra. Sofia, o trabalho do Cirurgião-Dentista acompanha a pessoa ao longo de toda a vida. Começa cedo, ainda nos primeiros meses de vida, com orientações sobre amamentação e prevenção de cárie, que influenciam diretamente o crescimento e o desenvolvimento orofacial, a mastigação e a fonação. Esses cuidados têm repercussões que ultrapassam o consultório odontológico. “A introdução tardia e o consumo racional de açúcar contribuem para prevenir não só lesões de cárie, mas também obesidade, hipertensão e outras complicações metabólicas. Dentes saudáveis, com boa oclusão e mastigação, favorecem a alimentação e o desenvolvimento geral.”
Para o Dr. Edson, essa atuação preventiva é estratégica e precisa ser garantida como direito de toda a população. É aí que entram políticas como a Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) – Brasil Sorridente, que desde 2004 reorganiza o acesso à atenção odontológica no SUS e insere a Odontologia na atenção integral. “Antes do Brasil Sorridente, a Odontologia esteve à margem das políticas públicas. O acesso era extremamente limitado e, muitas vezes, a extração dentária era o único tratamento oferecido, reforçando a visão mutiladora e isolada do Cirurgião-Dentista.”
O reconhecimento do Cirurgião-Dentista como profissional de saúde integral vem avançando, segundo a Dra. Sofia, com a consolidação de especialidades como Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, Odontologia Hospitalar e Odontogeriatria. Nessas áreas, a interação com outros profissionais é constante. “Mas a verdade é que não existe especialidade que não se preocupe com a saúde geral do paciente. Ainda precisamos mostrar mais à população como a saúde bucal interfere diretamente no bem-estar.”
O Dr. Edson complementa que, para que essa valorização se consolide, é fundamental investir na formação profissional. “A recente Lei nº 14.572/2023, que tornou obrigatória a presença da saúde bucal no SUS, é um marco. Mas para que ela saia do papel, é preciso ampliar financiamento, integrar equipes e formar Cirurgiões-Dentistas preparados para atuar na integralidade do cuidado.”
Formação voltada para o cuidado integral
Para a Dra. Sofia, essa compreensão precisa nascer já na graduação e se estender à pós-graduação. “Se o Cirurgião-Dentista não valorizar a saúde bucal como parte indissociável da saúde do indivíduo, fica difícil para a população entender. É papel da universidade formar profissionais capazes de atuar interprofissional, interdisciplinar e transdisciplinarmente, centrados no indivíduo e não apenas na boca.”
O coordenador de saúde bucal concorda e lembra que a formação e a organização do trabalho precisam caminhar juntas. É nesse sentido que o Brasil Sorridente atua não só na atenção primária, mas também com Centros de Especialidades Odontológicas, Laboratórios de Próteses Dentárias, Unidades Odontológicas Móveis e ações como a fluoretação da água. “O Brasil Sorridente não é apenas um programa assistencial, mas uma política de Estado que contribui para melhorar as condições de vida e saúde bucal das pessoas.”
O que une as perspectivas clínica e pública apresentadas pelos especialistas é a certeza de que a saúde bucal é parte indissociável da saúde geral e elemento essencial para a qualidade de vida da população.
“Cuidar da saúde bucal é cuidar do indivíduo como um todo, e isso deve ser entendido e praticado por todos nós, Cirurgiões-Dentistas”, enfatiza a Dra Sofia.
“Atenção à saúde bucal é direito de todos. E esse direito precisa ser garantido com qualidade, acesso e integração ao cuidado integral”, complementa o Dr Edson.
Por Swellyn França