Palavra do Especialista - Ortopedia Funcional dos Maxilares: tratando de maloclusões fisiologicamente

Palavra do Especialista - 27.08.2025

Ortopedia Funcional dos Maxilares: tratando de maloclusões fisiologicamente

Especialidade baseada na Fisiologia; terapêuticas fisiológicas, indolores e com aplicação em todas as idades

Entre os objetivos do tratamento estão alcançar um plano oclusal paralelo ao Plano de Camper, reabilitar dinamicamente a mastigação e favorecer a respiração buco-nasal
Entre os objetivos do tratamento estão alcançar um plano oclusal paralelo ao Plano de Camper, reabilitar dinamicamente a mastigação e favorecer a respiração buco-nasal

A Ortopedia Funcional dos Maxilares (OFM), especialidade odontológica criada pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) em 2001, tem origem na Europa, em um período de comunicações difíceis, mas de avanços científicos simultâneos em vários países — muito em função de mestres comuns a diferentes autores e professores.

O raciocínio dos praticantes, conduzido sobretudo por estímulos fisiológicos e, quando necessário, por intervenções mecânicas, firmou-se como marca da OFM. Essa orientação, ancorada nas contribuições de Robin, Fox, Kingsley, Roux, Andresen, Häupl, Macary, Gizy, Camper, Herbst, Graber, Balters, Moss, Planas, Petrovic, Bimler e Fräenkel, impulsionou o desenvolvimento da Fisiologia e consolidou sua interface com a prática clínica, a pesquisa e o ensino. Esse embasamento também estimulou áreas como Anatomia, Oclusão e Crescimento, fundamentais para aplicar conceitos, paradigmas e bases teóricas e filosóficas, além de orientar a definição dos objetivos de tratamento, afastando-os do terreno do “achismo”. Isto posto, justificam-se ajustes no nosso discurso: não se “ativa” aparelho ortopédico funcional; adequam-se suas estruturas às mudanças que a boca alcança por meio de estímulos terapêuticos corretamente indicados e aplicados.

A decisão de tratar sem ultrapassar os limites de adaptação dos tecidos torna os procedimentos indolores, preserva os dentes e evita reabsorções ósseas ou radiculares, assim como inflamações gengivais. ao mesmo tempo, amplia o horizonte terapêutico: vai da primeira infância (2 anos ou menos) à longevidade (acima de 90 anos), inclui desdentados (recuperando dimensão vertical e preparando a reabilitação funcional), e atende situações de disfunção neuromuscular (dores, sobretudo musculares, e distúrbios articulares e/ou auditivos), além de alterações posturais e de crescimento decorrentes de desempenho funcional inadequado (respiradores bucais, escolioses congênitas, mordidas cruzadas uni/bilaterais, mordidas abertas, disto - e mesioclusões).

Entre os objetivos do tratamento estão alcançar um plano oclusal paralelo ao Plano de Camper, reabilitar dinamicamente a mastigação (bilateral alternada) e favorecer a respiração buco-nasal, entre outros. Desse conjunto decorre, de forma esperada, o equilíbrio morfofuncional — princípio basilar da Reabilitação Neuro Oclusal (RNO).

A rapidez de resposta não é o foco: o tempo do tratamento é fisiológico. Ainda assim, recidivas são incomuns, em geral relacionadas ao diagnóstico.

Diagnóstico e seus protocolos

O diagnóstico em OFM é contínuo: o sistema estomatognático é aberto e dinâmico, exigindo avaliação em todas as oportunidades de atendimento. Protocolos não são simples de padronizar e devem estar abertos a atualizações impostas pela evolução científica e clínica.

Um protocolo que utilizamos em nosso curso de Especialização — aplicável no início e, resumidamente, ao longo do tratamento — inclui:

  • Anamnese e dados de saúde/vacinação;
  • Escuta ativa do paciente e responsáveis;
  • Motivo da consulta;
  • Exame físico-funcional (palpação dos principais grupos musculares);
  • Dinâmica mandibular e classificações (inclui Ângulo Funcional Mastigatório de Planas, classificação da protrusão, palpação muscular);
  • Imagens (radiografias; tomografia computadorizada cone bean; ressonância magnética; modelos — prototipados ou não — referenciados ao crânio; registros de postura corporal, dinâmica mandibular, marcha; fotografias clínicas; eletromiografia de superfície; entre outros);
  • Cefalometrias e análises.

Durante o tratamento (verificações e ajustes) - Verificar a adaptação do recurso terapêutico (aparelho, pistas diretas/coladas etc.), o equilíbrio em boca, a palpação muscular (elevadores e posicionadores) e a dinâmica mandibular (incluindo oclusão). Só então realizar as adequações necessárias.

Dos acessórios nos aparelhos - Utilizar apenas os acessórios indispensáveis. O princípio é adequar o aparelho ao sistema, não “ativá-lo”. Excesso de acessórios e ativações indevidas são causas frequentes de desequilíbrio do dispositivo.

Pistas Diretas Planas (PDP) - Inicie removendo seletivamente esmalte que interfira negativamente na dinâmica mandibular ou na busca da intercuspidação máxima. Com PDP ou Pistas Impressas, programe retorno em cerca de 3 meses para checar os contatos oclusais: integridade das pistas, equilíbrio oclusal, marcas de papel carbono (Bausch 01) e palpação muscular. Em seguida, realize o ajuste oclusal: acrescente onde necessário ou faça desgastes com alta rotação e broca diamantada em forma de roda, granulação fina. Assim, a própria função ajuda a recuperar a mastigação e a recolocar o sistema no leito fisiológico de crescimento e desenvolvimento.

Recidiva e limites fisiológicos - Ao privilegiar a Fisiologia da Boca e evitar forças estranhas ao organismo, a OFM tende a apresentar baixa recidiva. O caminho é respeitar os limites fisiológicos do Sistema Estomatognático e adequar o planejamento a eles — não o contrário.

Por Prof. Dr. Eduardo Sakai
Coordenador do curso de especialização em Ortopedia Funcional dos Maxilares (OFM) no Centro Universitário Herminio Ometto (UniAraras).
Ex-presidente da Confederação Brasileira de Ortopedia Funcional dos Maxilares (CBOFM). Membro da Câmara Técnica de Ortopedia Funcional dos Maxilares do CROSP.