Pacientes em foco - 04.11.2024
Semana Nacional de Prevenção ao Câncer Bucal: identificação precoce pode salvar vidas
Campanha busca conscientizar sobre sinais iniciais e importância do diagnóstico precoce do câncer bucal, doença que atinge mais de 15 mil brasileiros por ano
Em 2016, foi sancionada a Lei nº 13.230/2015, que institui a Semana Nacional de Prevenção do Câncer Bucal. Realizada todo ano na primeira semana de novembro, a campanha visa alertar a população sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce dessa doença, que afeta milhares de brasileiros anualmente, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). O câncer bucal, que pode se desenvolver em áreas como língua, gengiva, céu da boca e garganta, costuma ser silencioso no início, com sinais sutis que muitas vezes passam despercebidos.
O Patologista Oral e diretor do Departamento de Patologia Oral do Conselho Científico (COCI) da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD), Dr. Fabio Luiz Coracin, que é coordenador do Departamento de Odontologia da Fundação Pio XII Hospital de Câncer de Barretos, explica que o câncer de boca ocorre com maior frequência em homens e em pessoas no grupo de alto risco, incluindo aqueles que fazem uso diário de cigarro e/ou bebida alcoólica. “Embora as mulheres que utilizam esses mesmos fatores de risco também possam desenvolver a doença, o número de casos é menor,” observa Dr. Fabio, reforçando a importância de uma atenção especial a esses pacientes durante as consultas de rotina.
Segundo a especialista em Estomatologia e Diagnóstico Bucal, Dra. Mônica Andrade Lotufo, que é diretora do Departamento de Estomatologia do COCI da APCD, o carcinoma epidermóide representa aproximadamente 90% das neoplasias malignas da cavidade oral. “Os fatores de risco incluem o uso excessivo de tabaco, e é importante ressaltar que o fumo associado ao consumo de bebidas alcoólicas potencializa ainda mais o risco de desenvolvimento do câncer bucal,” explica Dra. Mônica. Além disso, alguns estudos mostram que infecções por alguns tipos de HPV, especialmente em pessoas mais jovens, estão relacionadas a um aumento no risco de câncer na orofaringe. No caso do câncer de lábio, a exposição à radiação solar, sobretudo aos raios UV-B, é um fator causal significativo.
Identificar o câncer bucal nas fases iniciais é essencial para aumentar as chances de cura. “O que gostaríamos muito é de fazer o diagnóstico do câncer de boca nas fases precoces do seu desenvolvimento, incluindo a fase das lesões orais com potencial de malignização, ou seja, quando não há o câncer, porém a mucosa da boca está alterada pelos fatores de risco que aumentam a probabilidade de desenvolver a doença,” destaca o doutor em Patologia Bucal. Essas lesões podem se manifestar como placas brancas — a leucoplasia, que não sai com a raspagem — ou como manchas vermelhas, conhecidas como eritroplasias, que são menos frequentes, mas potencialmente mais agressivas.
Dra. Mônica observa que o exame intraoral deve ser conduzido de forma minuciosa, com atenção especial aos tecidos moles da boca. “É essencial realizar uma anamnese abrangente com pacientes que tenham histórico de dependência de álcool, uso de tabaco ou infecção por alguns tipos de HPV, pois esses indivíduos podem exigir abordagens diagnósticas mais detalhadas e direcionadas,” afirma. A profissional destaca ainda que os locais mais acometidos na cavidade oral são a borda posterior da língua, o assoalho da boca, o palato duro, o trígono retromolar alveolar e o palato mole.
Dr Fabio explica também sobre a queilite actínica, uma lesão causada pela exposição crônica ao sol no lábio inferior, que pode evoluir para o câncer de lábio e se manifesta desde uma área de atrofia até uma placa branca. Ele ainda alerta que lesões ulceradas, rasas ou profundas, com bordas elevadas e endurecidas, também devem ser observadas, especialmente aquelas que não cicatrizam em duas a três semanas. “Todas as lesões da mucosa oral ou dos lábios que não cicatrizam entre 2 a 3 semanas deverão ser investigadas pelo Cirurgião-Dentista com finalidade diagnóstica, principalmente se estas pessoas estiverem no grupo de alto risco para o câncer de boca,” reforça.
Durante as consultas de rotina, é fundamental que o Cirurgião-Dentista examine toda a mucosa oral em busca desses sinais e oriente os pacientes sobre os fatores de risco, como tabagismo e consumo de álcool, que aumentam a probabilidade de desenvolver a doença. Além disso, o Dr. Fabio destaca a importância de uma abordagem contínua para a prevenção. “A prevenção do câncer de boca deve ser feita o ano todo pelo cirurgião-dentista, com educação continuada e treinamentos e, principalmente, na orientação dos pacientes em relação aos fatores de risco,” afirma.
Para pacientes que apresentam lesões suspeitas, a Dra. Mônica recomenda que o Cirurgião-Dentista considere o encaminhamento a um especialista, como um Estomatologista, que pode realizar exames complementares, como a biópsia incisional. “Esse profissional está apto a orientar, esclarecer e encaminhar o paciente para tratamento médico, quando necessário,” complementa.
Por Swellyn França