Pacientes em foco - Prótese Bucomaxilofacial em pacientes oncológicos: uma abordagem inovadora no Dia Mundial do Câncer

Pacientes em foco - 04.02.2025

Prótese Bucomaxilofacial em pacientes oncológicos: uma abordagem inovadora no Dia Mundial do Câncer

Uso combinado de scanners e softwares avançados de escultura digital possibilita uma redução significativa de custos e garante alta precisão na confecção de modelos para próteses impressas em 3D
Uso combinado de scanners e softwares avançados de escultura digital possibilita uma redução significativa de custos e garante alta precisão na confecção de modelos para próteses impressas em 3D

No Dia Mundial do Câncer, torna-se oportuno refletir sobre os avanços que vêm transformando o tratamento oncológico e, especialmente, a reabilitação de pacientes que enfrentam grandes ressecções decorrentes dos tratamentos. Em um cenário onde o câncer de cabeça e pescoço – que responde por cerca de 4% dos casos mundiais – frequentemente resulta em perdas significativas de tecido, a Prótese Bucomaxilofacial se consolida como uma alternativa eficaz, promovendo a recuperação estética, funcional e emocional dos pacientes.
“A prótese bucomaxilofacial continua sendo a terapia de eleição para perdas de substância em patologias localizadas na boca, nos maxilares e na face, principalmente devido ao seu custo mais acessível em comparação com a autoplastia. Além disso, oferece resultados estéticos e funcionais superiores às abordagens cirúrgicas em perdas superiores a 3-4 centímetros”, afirma o Prof. Dr. Antonio Carlos Lorens Saboya, professor do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP). “Esses procedimentos devem sempre ser conduzidos por um Cirurgião-Dentista, com o acompanhamento de outras especialidades, conforme necessário para cada caso.”

O câncer de cabeça e pescoço, que muitas vezes provoca desfigurações profundas e afeta funções essenciais como mastigação, fala e respiração, demanda uma reabilitação que vai além da intervenção cirúrgica. O professor titular da FOUSP, Prof. Dr. Reinaldo Brito e Dias, especialista em Prótese Bucomaxilofacial e Odontologia do Esporte e presidente do Conselho Fiscal da APCD, explica que “reabilitar, nesse contexto, significa devolver ao paciente a capacidade de realizar suas funções orgânicas e retomar sua vida social como antes”. Para ele, os conceitos aplicados na Prótese Bucomaxilofacial são fundamentais não apenas para o aspecto estético, mas também para a reintegração social e o bem-estar psicológico dos pacientes. “A intervenção cirúrgica isolada não é suficiente se o paciente não for adequadamente reabilitado”, completa.

Tecnologia digital integrada: diagnóstico, planejamento e inovações na reconstrução
A integração de técnicas modernas de diagnóstico tem sido decisiva para o planejamento cirúrgico e a reabilitação dos pacientes. O Prof. Dr. Israel Chilvarquer, professor associado da FOUSP, especialista em Radiologia Odontológica e diretor do Departamento de Radiologia do Conselho Científico (COCI) da APCD Central, destaca que “o diagnóstico precoce em pacientes que necessitam de próteses bucomaxilofaciais é crucial, pois permite a identificação de alterações decorrentes do tratamento oncológico, prevenindo sequelas anatômicas mais severas”.

Entre as tecnologias empregadas estão a Radiografia Panorâmica, a Tomografia Computadorizada, a Ressonância Magnética e, especialmente, a Tomografia Cone Beam (CBCT), que, em conjunto com softwares de planejamento virtual e inteligência artificial, possibilita a criação de modelos digitais precisos para a confecção de próteses por impressão 3D.

De acordo com o Prof. Dr. Luciano Lauria Dib, presidente do Instituto Mais Identidade e coordenador do Centro de Prevenção e Detecção de Câncer de Boca da Universidade Paulista (UNIP), “o uso combinado de scanners e softwares avançados de escultura digital possibilita uma redução significativa de custos e, ao mesmo tempo, garante alta precisão na confecção de modelos para próteses impressas em 3D”.

Além disso, a osseointegração – com o uso de implantes intra e extraorais – tem demonstrado melhorar significativamente a estabilidade e a retenção das próteses, proporcionando melhor qualidade de vida aos pacientes. Quanto à inteligência artificial, o Dr. Luciano acrescenta que, mesmo estando em estágio inicial, a tecnologia promete refinar o processo de fotogrametria e ampliar a precisão dos modelos digitais, abrindo novas possibilidades para o planejamento protético.

Técnicas cirúrgicas e ressecção de tumores
Os procedimentos de ressecção de tumores na cavidade bucal variam conforme a extensão e localização do tumor. O Prof. Dr. Fabio Luiz Coracin, coordenador do Departamento de Odontologia da Fundação Pio XII – Hospital de Câncer de Barretos e diretor do Departamento de Patologia Oral do COCI da APCD, explica que, enquanto alguns cânceres labiais podem ser tratados com a cirurgia micrográfica de Mohs, tumores mais extensos, como os da língua e mandíbula, exigem procedimentos complexos, como a pelveglossectomia e a pelveglossomandibulectomia.

Para o Prof. Dr. Marcelo Marcucci, supervisor técnico do Serviço de Estomatologia e Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Heliópolis – SUS, em São Paulo, “a cirurgia continua sendo um dos pilares do tratamento curativo das neoplasias orais, mas quanto mais estruturas são removidas, maiores as sequelas funcionais e estéticas”.

Capacitação e trabalho multiprofissional
A reabilitação oncológica exige dos profissionais não apenas conhecimento técnico, mas também preparo emocional para lidar com a complexidade dos casos. “Todo Cirurgião-Dentista que se propõe a atender um paciente oncológico deve entender que seu trabalho será sempre em conjunto com uma equipe multidisciplinar”, enfatiza o Prof. Dr. Fabio. Essa equipe pode incluir oncologistas, radio-oncologistas, psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos e outros especialistas, garantindo uma abordagem holística e humanizada ao tratamento.

A integração entre a Odontologia e a Fononcologia tem se tornado cada vez mais essencial. Segundo a Profa. Dra. Katia Nemr, livre-docente da FMUSP e diretora do Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Voz (LIFVoz), “a colaboração entre fonoaudiólogos e cirurgiões-dentistas é fundamental para otimizar a funcionalidade das próteses bucomaxilofaciais, respeitando as particularidades de cada especialidade”.

De fato, a Fononcologia desempenha um papel crucial na reabilitação de pacientes oncológicos, atuando na melhoria da comunicação, voz, respiração e deglutição. “A atuação fonoaudiológica se estende desde o diagnóstico e tratamento, incluindo cuidados paliativos, até a fonoterapia propriamente dita”, destaca a Profa. Dra. Katia.

Essa interação ocorre desde o planejamento da prótese – quando o fonoaudiólogo contribui para definir limites funcionais e estéticos – até a fase de moldagem, permitindo ajustes mais precisos. Em casos como laringectomias totais, a ausência de dentes pode impactar a produção da voz esofágica, reforçando a necessidade dessa atuação conjunta.

Neste Dia Mundial do Câncer, a união entre tecnologia e cuidado humanizado assume um papel fundamental na transformação do tratamento oncológico. A integração de diagnóstico precoce, técnicas cirúrgicas avançadas, planejamento digital 3D, osseointegração e inteligência artificial, aliada à colaboração multiprofissional, demonstra que a reabilitação bucomaxilofacial vai além da estética: ela promove a recuperação funcional, ajusta a comunicação e a deglutição e possibilita a reintegração social dos pacientes.

Por Swellyn França – Matéria da Revista da APCD adaptada para o Portal da APCD