Pacientes em foco - 26.02.2025
“Doença do beijo”: aumento de casos no Carnaval e o papel do Cirurgião-Dentista na identificação da doença
Maior contato social favorece a transmissão do vírus Epstein-Barr; especialistas alertam para sinais clínicos e medidas preventivas

Durante o Carnaval, o contato próximo entre as pessoas e o compartilhamento de objetos podem contribuir para o aumento dos casos de mononucleose infecciosa, também conhecida como "doença do beijo". O vírus Epstein-Barr (EBV), principal agente causador, é transmitido pela saliva e pode permanecer incubado por semanas antes do início dos sintomas. Segundo o infectologista Dr. Mateus Ettori Cardoso, do Grupo Técnico Médico Hospitalar da Vigilância Sanitária de São Paulo, "durante o Carnaval, pode haver um aumento no número de casos de mononucleose devido ao maior contato social e ao compartilhamento de objetos, como copos, garrafas e utensílios, além de beijos, que são formas comuns de transmissão do Epstein-Barr vírus".
Para conscientizar a população sem alarmismo, ele recomenda informação acessível e objetiva. "A melhor estratégia é usar canais de comunicação como redes sociais, cartazes e flyers educativos, com explicações claras sobre como a mononucleose é transmitida e como se prevenir", reforça.
Diagnóstico e manifestações bucais
Os sintomas da mononucleose podem ser confundidos com diversas outras doenças infecciosas, como faringite viral, amigdalite estreptocócica, infecção pelo citomegalovírus (CMV), toxoplasmose e até leucemia ou linfoma. "A mononucleose pode ser confundida com essas condições porque apresenta sintomas semelhantes, como febre, fadiga, dor de garganta e linfadenopatia", alerta Dr. Mateus. "No entanto, exames laboratoriais e avaliação clínica são fundamentais para um diagnóstico preciso."
A especialista em Estomatologia e Diagnóstico Bucal, Dra. Mônica Andrade Lotufo, que é diretora do Departamento de Estomatologia do COCI da APCD destaca que, no exame clínico odontológico, a mononucleose apresenta sinais característicos. "As manifestações bucais incluem petéquias no palato, edema na úvula, placas brancas nas tonsilas palatinas e na parede posterior da faringe, além da presença de úlceras em alguns casos", explica. "A linfadenopatia cervical também é um indício importante para que o Cirurgião-Dentista suspeite da doença."
Os sintomas orais podem ser confundidos com outras infecções comuns nesta época do ano, como candidíase ou amigdalite bacteriana. "A candidíase pseudomembranosa, por exemplo, também forma placas brancas ou amareladas na mucosa oral, mas o paciente relata sensação de queimação e gosto desagradável na boca. Além disso, ao remover as placas com uma espátula, é revelada uma área avermelhada e dolorida, o que não ocorre na mononucleose", diferencia Lotufo. "Já a amigdalite bacteriana responde a antibióticos, enquanto a mononucleose não."
Prevenção e cuidados pós-diagnóstico
Embora a transmissão ocorra principalmente pelo contato com saliva, outras formas também são relevantes. "O vírus pode ser transmitido pelo compartilhamento de objetos pessoais, como copos, talheres e escovas de dente. Em situações mais raras, também pode ocorrer transmissão por transfusão de sangue ou transplantes de órgãos de doadores infectados", explica Dr. Mateus.
Para pacientes diagnosticados, é essencial o acompanhamento profissional. "É importante que pacientes que tiveram mononucleose mantenham um acompanhamento regular com um profissional de saúde para monitorar e tratar qualquer complicação que possa surgir", reforça Lotufo. A longo prazo, podem ocorrer complicações como "sensação de boca seca (xerostomia), gengivite crônica e linfadenopatia cervical crônica", alerta.
Com a proximidade do Carnaval, a disseminação de informação clara e medidas preventivas simples, como evitar compartilhar objetos e manter hábitos de higiene, podem fazer diferença na propagação da mononucleose.
Por Swellyn França