Odontologia - 06.09.2024
Setembro Amarelo 2024: Conectando saúde mental e saúde bucal
Setembro Amarelo é o mês dedicado à prevenção do suicídio e à promoção da saúde mental, com o tema deste ano sendo "Se precisar, peça ajuda!". Esse tema enfatiza a importância de buscar apoio e ajuda em momentos de crise emocional.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é um problema global de saúde pública, com mais de 700 mil mortes registradas anualmente. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é a quarta principal causa de morte.
No Brasil, o cenário é igualmente preocupante, com um aumento significativo nas taxas de mortalidade entre adolescentes. Entre 2011 e 2022, a taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano, um aumento mais acentuado do que na população em geral, cuja taxa de suicídio cresceu em média 3,7% ao ano no mesmo período. Esses resultados foram obtidos a partir da análise de quase 1 milhão de dados, conforme divulgado em um estudo recente publicado na The Lancet Regional Health – Americas. O estudo foi desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores de Harvard.
Apenas 38 países possuem estratégias nacionais para prevenção do suicídio, sublinhando a necessidade de uma abordagem mais robusta e integrada.
A conexão entre saúde mental e saúde bucal
De acordo com a Dra. Luciane Miranda Guerra, professora da área de Psicologia Aplicada do Departamento de Saúde Coletiva, Ortodontia e Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP/Unicamp), saúde mental e saúde bucal estão profundamente interligadas. “Transtornos mentais podem levar a quadros emocionais debilitados, que afetam o autocuidado. Isso prejudica a saúde bucal e cria um ciclo vicioso: a baixa autoestima resulta em descuido com a saúde bucal, o que por sua vez afeta ainda mais a autoestima”, explica.
O estresse e a ansiedade são fatores que podem alterar o metabolismo e impactar a saúde bucal de várias maneiras. Alguns indivíduos recorrem a dietas calóricas como compensação emocional, levando a problemas dentários como lesões de cárie. Outros podem apresentar disfagia, resultando em deficiências nutricionais e lesões na mucosa bucal. A diminuição do fluxo salivar também é um efeito negativo, afetando a saúde dos dentes e gengivas. Além disso, o estresse e a ansiedade podem reduzir o cuidado com a higiene bucal.
Por outro lado, a falta de cuidados diários pode estar relacionada à saúde mental do indivíduo. “O estado emocional pode fazer com que a pessoa negligencie os cuidados bucais. Em casos de transtornos mentais graves, o autocuidado é praticamente inexistente, prejudicando significativamente a saúde bucal”, acrescenta a Dra. Luciane.
Abordagens complementares e integrativas ao tratamento mental
A mestre em Ortodontia, especialista em Ortopedia Funcional dos Maxilares, habilitada em Odontologia Antroposófica e em Fitoterapia, Dra. Célia Regina Lulo Galitesi, destaca a relevância da conexão entre saúde mental e saúde bucal. “O impacto dos transtornos mentais na saúde bucal pode ser significativo e é essencial que os profissionais de Odontologia estejam atentos a essas manifestações. A Odontologia Antroposófica e a Fitoterapia são algumas das habilitações reconhecidas pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) que podem oferecer abordagens que auxiliam no tratamento e na promoção do bem-estar geral dos pacientes”, afirma a Dra. Célia.
Ela destaca a importância de uma abordagem integrativa, onde o cuidado com a saúde bucal é integrado ao tratamento das condições emocionais. “O trabalho do Cirurgião-Dentista, além da prevenção e tratamento de doenças dentárias, pode ser uma peça chave no suporte ao bem-estar mental do paciente, oferecendo um atendimento que compreenda e trate o indivíduo como um todo, dentro de um contexto mais amplo de saúde e bem-estar”, completa. De acordo com a Dra. Célia Lulo “Entender uma pessoa só pela ‘boca’ é fragmentar a ciência, entender o ser humano ‘sem a boca’ é reduzir a ciência e entender o indivíduo sem toda natureza é deturpar a ciência.”
“O uso de fitomedicamentos pode ser particularmente benéfico, com menos efeitos colaterais, para a redução do estresse e para melhorar o estado emocional, o que, por sua vez, reflete positivamente na saúde bucal.” Além disso, a Dra. Célia enfatiza a importância de técnicas salutogênicas de relaxamento e práticas integrativas como apoio ao cuidado odontológico, que podem ajudar na redução da ansiedade e na promoção de uma melhor saúde mental.
Estratégias para melhorar a saúde bucal em pacientes com transtornos mentais
Para melhorar a saúde bucal de pacientes com problemas emocionais, algumas estratégias podem ser adotadas:
- Educação e Sensibilização: Esclarecer ao paciente a importância da saúde bucal e como ela influencia seu bem-estar geral.
- Apoio e Acompanhamento: Oferecer apoio contínuo, ajustando o tratamento conforme as necessidades e dificuldades individuais do paciente.
- Construção de Relação de Confiança: Estabelecer uma relação acolhedora e de confiança com o paciente para garantir que ele se sinta confortável e apoiado.
A Dra. Célia Lulo enfatiza a importância de criar um ambiente acolhedor e de confiança, onde o paciente se sinta seguro para compartilhar informações relevantes ao tratamento clínico, ela recomenda que os Cirurgiões-Dentistas capacitem-se para ampliar seus conhecimentos e compreensão de patologias orais vinculadas ao estado emocional de seus pacientes e estejam preparados para encaminhá-los a profissionais de saúde mental quando necessário.
O papel do Cirurgião-Dentista na promoção da saúde mental
Os Cirurgiões-Dentistas desempenham um papel fundamental na promoção da saúde mental, ao realizarem uma anamnese integral podem identificar sinais relevantes de depressão ou ideação suicida, e uma vez detectados sinais graves, é essencial encaminhar o paciente para ajuda especializada e apoiar a busca por recursos e suporte adequados. “O suicídio ainda é um tabu significativo na sociedade, e a conscientização sobre este tema é crucial para reduzir o número de casos e salvar vidas. “A vida é a melhor escolha, e todos têm um papel a desempenhar na prevenção do suicídio e na promoção da saúde mental”, finaliza a Dra Célia.
Por Swellyn França