Odontologia - 03.12.2024
Dia Internacional da Pessoa com Deficiência: um chamado à inclusão também na saúde bucal
Celebrado em 3 de dezembro, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência destaca a importância de promover uma sociedade mais inclusiva, que assegure igualdade de oportunidades e respeito à diversidade. Instituído em 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU), a data é um convite à reflexão sobre os avanços e desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência em diferentes aspectos da vida, incluindo o acesso à saúde.
No contexto odontológico, os desafios são expressivos. Apesar de o Brasil ter sido o primeiro país a reconhecer a Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (OPNE) como especialidade, em 2001, o número de especialistas ainda é muito baixo. Segundo consta no site do Conselho Federal de Odontologia (CFO), são apenas 969 profissionais registrados, representando 0,66% de todos os especialistas no país. Para uma população onde mais de 18 milhões de brasileiros têm alguma deficiência, de acordo com o Censo de 2022, a lacuna é evidente.
“Apenas 969 profissionais para atender uma população tão ampla é um número muito pequeno. Essa é a primeira grande barreira que esses pacientes enfrentam ao buscar cuidados odontológicos”, ressalta a especialista em OPNE, Dra. Aida Sabbagh-Haddad, que atualmente é vice-presidente do Conselho Científico (COCI) da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD) e diretora do departamento de OPNE do COCI da APCD. O estado de São Paulo concentra a maior quantidade de especialistas, com 300 profissionais registrados, mas a distribuição desigual dificulta ainda mais o acesso em regiões menos assistidas.
Outro ponto crítico é a formação profissional. “As faculdades nem sempre oferecem disciplinas com atividades clínicas ou estágios em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais. Isso prejudica a formação inicial e reforça a necessidade de especialização e educação continuada”, explica a também especialista em OPNE, Dra. Sofia Takeda Uemura, que é diretora da Faculdade de Odontologia da APCD (FAOA). Ela acrescenta que o público-alvo da especialidade não se restringe às pessoas com deficiência. “A especialidade abrange pacientes com condições físicas, sensoriais, oncológicas, genéticas ou neurológicas, demandando adaptações na abordagem técnica e no manejo do comportamento.”
Além da escassez de profissionais qualificados, a Dra. Aida destaca a complexidade do atendimento: “Cada patologia apresenta particularidades, e mesmo dentro de uma mesma condição, há variações que exigem abordagens personalizadas.” Para muitos pacientes, a jornada até um atendimento adequado é marcada por barreiras, desde a falta de infraestrutura adaptada até a dificuldade em encontrar profissionais capacitados para lidar com suas necessidades específicas.
Apesar dos desafios, as especialistas concordam que a Odontologia tem potencial para ser uma ponte de inclusão. “A Odontologia precisa ser uma ferramenta para transformar vidas e reduzir as brechas no acesso à saúde”, afirma a Dra. Aida.
Já a Dra. Sofia reforça: “O atendimento odontológico é um direito universal, que deve ser garantido sem barreiras nem exclusões.”
O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência nos lembra que a inclusão vai além das palavras. Na Odontologia, ela começa com a qualificação de profissionais, o fortalecimento de serviços adaptados e o compromisso com práticas humanizadas que respeitem as particularidades de cada paciente.
Por Swellyn França