Odontologia - 27.11.2024
Cuidado oncológico integrado: o papel do Cirurgião-Dentista
No Dia Nacional de Combate ao Câncer, comemorado em 27 de novembro, é essencial refletir sobre a importância de uma abordagem multidisciplinar no tratamento oncológico
O câncer é uma das principais causas de mortalidade no mundo, e no Brasil não é diferente. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima cerca de 704 mil novos casos de câncer no país em 2025. Entre os tipos mais comuns estão o câncer de pele não melanoma, que lidera a lista, seguido pelos cânceres de mama feminina e o de próstata. Os cânceres de cabeça e pescoço, como os de cavidade oral e laringe, também estão entre os mais prevalentes, ocupando o quinto e oitavo lugar entre os homens, respectivamente.
O Cirurgião-Dentista desempenha um papel fundamental nesse cenário. Mais do que atuar diretamente nos casos de câncer de cabeça e pescoço, o profissional tem um papel essencial no tratamento oncológico como um todo, ajudando a prevenir complicações bucais e melhorando a qualidade de vida dos pacientes durante e após os tratamentos. Essa atuação exige não apenas preparo técnico, mas também a capacidade de trabalhar em conjunto com outros profissionais de saúde, como médicos, psicólogos, nutricionistas e fonoaudiólogos. Afinal, o combate ao câncer é um esforço que depende da união de diferentes especialidades, sempre com foco no bem-estar integral do paciente.
Segundo o Patologista Oral e diretor do Departamento de Patologia Oral do Conselho Científico (COCI) da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD), Dr. Fabio Luiz Coracin, que é coordenador do Departamento de Odontologia da Fundação Pio XII Hospital de Câncer de Barretos, é imprescindível que o Cirurgião-Dentista esteja preparado tanto técnica quanto emocionalmente para enfrentar os desafios que acompanham esse tipo de tratamento. “Isso inclui compreender as emoções e os contextos individuais dos pacientes, além de dominar as especificidades do tumor e do tratamento indicado, seja ele cirúrgico, quimioterápico, radioterápico ou mesmo novas terapias, como a imunoterapia. As complicações bucais, como mucosite oral e infecções oportunistas, são efeitos adversos comuns, especialmente durante a quimioterapia e a radioterapia. Esses problemas podem afetar diretamente o sucesso do tratamento e o bem-estar do paciente, tornando indispensável que o Cirurgião-Dentista planeje suas intervenções com base nos períodos críticos, como o intervalo de maior risco para supressão da medula óssea ou desenvolvimento de mucosite. Além disso, o mapeamento do plano de radioterapia e o entendimento do campo de radiação são ferramentas fundamentais para o manejo adequado de cada caso. Essa atuação integrada exige, necessariamente, uma comunicação eficiente entre os profissionais que compõem a equipe multidisciplinar. Médicos, Cirurgiões-Dentistas, psicólogos, nutricionistas e outros especialistas precisam trabalhar juntos para garantir o melhor cuidado ao paciente. Nenhum profissional é superior ao outro; cada um tem sua contribuição única para o tratamento".
Da mesma forma, o Prof. Dr. Marcelo Marcucci, supervisor de Equipe Técnica do Serviço de Estomatologia e Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Heliópolis – SUS, em São Paulo, reforça que o sucesso do tratamento depende do alinhamento entre as diferentes áreas da saúde. Além disso, ele destaca que os protocolos específicos e baseados nas mais recentes evidências científicas para guiar o preparo e o manejo odontológico antes, durante e após os tratamentos oncológicos são extremamente importantes. “No entanto, o Cirurgião-Dentista deve estar atento não apenas às questões técnicas, mas também ao contexto sociocultural e emocional dos pacientes, escutando suas necessidades e respeitando suas individualidades. O paciente é mais do que um diagnóstico; ele traz consigo histórias, dinâmicas familiares e perspectivas únicas que precisam ser consideradas no planejamento do tratamento”.
Dr. Marcucci ainda destaca que, com o aumento da expectativa de vida e, consequentemente, o crescimento no número de diagnósticos de câncer, torna-se indispensável que os Cirurgiões-Dentistas valorizem a prevenção e o diagnóstico precoce em sua prática diária. “Além disso, a educação continuada e a atualização sobre avanços científicos devem ser prioridades para todos os profissionais da saúde envolvidos nesse cenário. Mais do que tratar doenças, o compromisso é oferecer dignidade, conforto e esperança aos pacientes e suas famílias”.
Por Swellyn França