Odontologia - 27.07.2024
Cirurgião-Dentista desempenha papel importante na detecção e prevenção do câncer de cabeça e pescoço
Celebrado em 27 de julho, o Dia Mundial da Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço visa chamar a atenção sobre cuidados e controle efetivos deste tipo de câncer, o sexto mais comum em todo o mundo.
Os tumores de cabeça e pescoço são uma denominação genérica do câncer que se localiza em regiões como cavidade oral, lábios, língua, gengiva, assoalho da boca e palato, seios da face, faringe, nasofaringe, orofaringe, hipofaringe, laringe e órgão da voz, glândulas salivares e glândula tireoide.
No Brasil, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que no triênio 2023-2025, aconteçam 41 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço, sendo aproximadamente 15.000 ocorrendo nos lábios e boca. Dentre as neoplasias malignas deste segmento, o câncer de boca está entre os cinco tumores mais frequentes em homens e com alta taxa de mortalidade.
As ações contra essa doença devastadora foram ampliadas no Brasil por todo o mês com a campanha “Julho Verde”, que tem a finalidade de conscientizar a população sobre os fatores de risco e promover a detecção precoce do câncer de cabeça e pescoço.
De acordo com o doutor em Patologia Bucal, Dr. Fábio Luiz Coracin, que é diretor do departamento de Patologia Oral e Maxilofacial do Conselho Científico (COCI) da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD), titular e coordenador do departamento de Odontologia da Fundação Pio XII - Hospital de Amor de Barretos, “como profissional que atua nas esferas primária, secundária e terciária de saúde, o Cirurgião-Dentista tem uma ação importante e oportuna no diagnóstico precoce do câncer de boca no contexto de identificar sinais e sintomas iniciais da doença durante as consultas odontológicas de rotina. Os profissionais de Odontologia devem seguir um protocolo de exame clínico onde, durante a consulta de rotina, examinem visualmente e detalhadamente toda a boca e tecidos circundantes. Caso alguma anormalidade seja detectada, o paciente precisa ser encaminhado para uma investigação mais aprofundada e, ainda, se o Cirurgião-Dentista encontrar uma lesão suspeita, pode optar por realizar uma biópsia, que é a remoção de uma pequena amostra de tecido para análise laboratorial. A biópsia é fundamental para confirmar o diagnóstico de câncer. Ao encontrar uma lesão com diagnóstico de câncer de boca, o Cirurgião-Dentista fará o encaminhamento para especialistas para o tratamento”.
Diagnóstico precoce salva vidas
O Dr Fabio Coracin salienta que o diagnóstico precoce do câncer de boca pode salvar vidas. “Portanto, é essencial que as pessoas façam visitas regulares ao Cirurgião-Dentista e informem qualquer alteração incomum na cavidade oral para uma avaliação adequada e oportuna. Quando detectado no início, há melhores resultados no tratamento, aumentando as chances de cura”, reforça.
Outra ação pouco difundida, conforme o Dr. Fábio Coracin é o monitoramento constante dos pacientes com histórico de câncer de boca. “Eles devem ser monitorados regularmente pelo Cirurgião-Dentista para detectar quaisquer recorrências ou novas lesões”.
Atenção às lesões suspeitas - Nem todas as lesões são indicativas de doença maligna. Entretanto, quaisquer alterações persistentes na boca que não cicatriza após duas semanas devem ser avaliadas por um Cirurgião-Dentista. Vale lembrar que, as lesões suspeitas do câncer de boca podem variar em aparência e localização na cavidade oral, algumas incluem as úlceras ou feridas que não cicatrizam em até 15 dias, bem como as manchas vermelhas (eritroplasia) ou brancas (leucoplasia) que não desaparecem. “Outras situações importantes, que precisam ser investigadas, incluem os caroços ou inchaços que caracterizam os nódulos no pescoço ou que apresentem evolução rápida, os sangramentos sem origem aparente ou inexplicável, a dificuldade para engolir ou falar, que podem indicar alguma doença na orofaringe. A presença de rouquidão persistente sem causa aparente deve ser considerada em uma avaliação clínica. É essencial ressaltar que esses sintomas podem ser causados por outras condições que não caracterizem o câncer de boca, mas qualquer um deles precisa ser avaliado por um Cirurgião-Dentista, especialmente se persistirem”, aponta o Dr. Fábio.
Ações de conscientização sobre fatores de risco devem durar o ano inteiro
O tabagismo é o principal fator para o desenvolvimento do câncer de boca, associado ao consumo sinérgico do álcool. Atualmente, também tem se falado bastante sobre o papel do vírus do papiloma humano (HPV) no desenvolvimento do câncer de orofaringe e ainda a exposição prolongada ao sol sem uso de protetor labial aumenta o risco para o câncer de boca. "Portanto, uma das medidas preventivas primárias para a doença envolve a conscientização do paciente sendo que o Cirurgião-Dentista deve informar os indivíduos sobre os fatores de risco associados ao câncer de boca, como o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, a exposição prolongada ao sol sem proteção labial adequada e a exposição ao HPV. Conscientizar os pacientes sobre esses fatores pode ajudá-los a adotar um estilo de vida mais saudável e estarem atentos a qualquer mudança na cavidade oral. Por outro lado, a prevenção secundária ao câncer de boca envolve a implementação de um programa de rastreamento da população de alto risco para a doença, incluindo os homens e mulheres que apresentam exposição aos fatores de risco e estão acima de 35 anos de idade”, avalia Dr. Fábio.
Conhecimento em Patologia Oral e evolução tecnológica contribuem para melhor compreensão e tratamento desse tipo de câncer
A Patologia Oral é uma especialidade da Odontologia que tem por objetivo o diagnóstico de doenças da boca e estruturas anexas. “O Patologista é o profissional que recebe as biópsias e emite um relatório diagnóstico com o nome da doença, dentre elas, o câncer de boca. Porém, este especialista também é capaz de correlacionar às informações clínicas fornecidas com o seu diagnóstico. Esta competência técnica levou a Patologia Oral a uma evolução bastante importante no conhecimento da doença. Adiciono a isso, a implementação tecnológica que tem aumentado drasticamente o aprendizado sobre a doença, incluindo a biologia da célula tumoral, os mecanismos de transformação maligna e como os fatores de risco estão envolvidos na evolução do câncer de boca. Com isso, pode-se definir alguns tratamentos que respondem de forma comum à doença, bem como, aquelas respostas individualizadas como a imunoterapia, ainda em estudo. A quimioterapia e a radioterapia também têm um papel importante no tratamento do câncer de boca e que, com o tempo, mostrou-se diretamente relacionada com o conhecimento da Patologia Oral no câncer de boca”, finaliza Dr. Fábio.
Políticas Públicas e Infraestrutura para o Tratamento do Câncer de Cabeça e Pescoço
Para o vice-diretor do Departamento de Patologia Oral e Maxilofacial do COCI da APCD, Dr. Vinicius Pioli Zanetin, que é especialista em Estomatologia e Cirurgia Bucomaxilofacial, ex-membro, secretário e presidente da Comissão de Políticas Públicas do CROSP, as políticas públicas são muito importantes na prevenção e tratamento do câncer de boca no Brasil.
Especificamente sobre o câncer bucal, Dr. Vinicius destaca que, desde 2004, o Ministério da Saúde implementou a Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB), que inclui diretrizes específicas para a prevenção e controle do câncer bucal, disponíveis no “Caderno de Atenção Básica nº 17”.
O Estado de São Paulo, através da Resolução SS 159 de maio de 2007, orienta todos os municípios a realizarem exames bucais com critérios de risco para cárie, doenças periodontais, oclusopatias e câncer bucal. Além disso, o Plano Estadual de Oncologia aponta desafios e estratégias para o diagnóstico precoce do câncer bucal, como a necessidade de referências regionalizadas para coleta de material diagnóstico, suporte à profissionais da Atenção Primária em Saúde (APS) por estomatologistas, e integração de ações preventivas nas equipes da APS.
Dr. Vinicius enfatiza que o SUS (Sistema Único de Saúde) possui uma infraestrutura robusta para o tratamento oncológico, sendo o maior órgão de tratamento de câncer no Brasil. "O desafio atual é o gargalo nos hospitais com capacidade para cirurgias de cabeça e pescoço, o que aumenta as filas de espera". Ele também ressalta a colaboração contínua entre a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, a Sociedade Brasileira de Patologia e Estomatologia Oral, e os governos estadual e federal para aprimorar as linhas de cuidado no câncer de boca.
O Ministério da Saúde, através da Portaria Nº 874 de 16 de maio de 2013, estabeleceu a Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no SUS. Isso inclui diretrizes específicas para o diagnóstico e tratamento do câncer de boca, essencial para garantir que pacientes de todo o país tenham acesso ao cuidado necessário. “É crucial que a população esteja ciente de que o SUS oferece tratamento oncológico sem custos, e que os profissionais de saúde, especialmente os cirurgiões-dentistas, estejam capacitados para desenvolver ações de prevenção e detecção precoce, contribuindo assim para um tratamento mais oportuno e eficaz”, finaliza o Dr. Vinícius.
Por Swellyn França