Odontologia - 16.12.2024
A evolução dos sistemas adesivos na Odontologia Restauradora
Avanços tecnológicos que transformaram conceitos, técnicas e resultados na prática odontológica moderna
A adesão representa um marco na Odontologia restauradora, revolucionando conceitos e técnicas ao longo das últimas décadas. Sua importância transcende os procedimentos restauradores diretos e indiretos, impactando também diversas áreas da Odontologia moderna.
Para explicar a magnitude dessa tecnologia, o professor titular da área de Materiais Dentários do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP/Unicamp), Prof. Dr. Mário Fernando de Goes, conta que durante um determinado período de sua vida acadêmica, o título do curso que ele ministrava chamava-se “Adesão: a revolução na Odontologia Restauradora”. “Na verdade, o conhecimento científico sobre os princípios adesivos resultou no desenvolvimento da tecnologia adesiva que proporcionou mudanças conceituais e técnicas com impacto significativo na área da Odontologia restauradora, tanto direta quanto indireta. Os sinais dessas mudanças são visíveis nos procedimentos restauradores há quase 30 anos. O Cirurgião-Dentista deixou de fazer preparos dentais na forma tradicional (invasiva para produzir retenção mecânica), para adotar técnicas modernas que seguem os princípios conservadores da Odontologia Minimamente Invasiva ou Mínima Intervenção, na qual se recomenda a remoção seletiva do tecido cariado. O uso da tecnologia adesiva provocou essa revolução conceitual e permitiu o avanço nas técnicas restauradoras, mudando o cenário geral da Odontologia.
O professor associado da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Prof. Dr. Alessandro Dourado Loguércio, que é pesquisador na área de Dentística destaca que a adesão é fundamental em todos os procedimentos restauradores e protéticos, sejam convencionais ou digitais, porque garante a retenção, o vedamento marginal e a longevidade das restaurações, prevenindo infiltrações e falhas estruturais. “Em procedimentos convencionais, como restaurações diretas, a adesão é crucial para unir os materiais restauradores ao substrato dental. Já em procedimentos digitais, como restaurações CAD/CAM, a adesão otimiza a adaptação e o desempenho do material restaurador. Além disso, a adesão é essencial em outras áreas, como em cimentação de facetas e pinos intrarradiculares, colagem de fragmentos dentários, tratamentos ortodônticos e até mesmo na cimentação de próteses sobre implantes, promovendo estabilidade e funcionalidade”.
Inovações nos sistemas adesivos: modos de aplicação e evolução tecnológica
Os avanços nos sistemas adesivos levaram à classificação dos materiais em dois principais modos de aplicação: o “condicionar & lavar” e o autocondicionante. O Dr. Mário esclarece que os sistemas de três passos no modo “condicionar & lavar” utilizam ácido fosfórico, primer e adesivo de forma separada. Neste procedimento, o ácido fosfórico desmineraliza o tecido dentário, o primer prepara a superfície das fibrilas colágenas para a difusão do adesivo, e o monômero hidrófobo completa a união, embora possa deixar fibrilas colágenas expostas e sujeitas à degradação hidrolítica ao longo do tempo.
Já o adesivo autocondicionante, que utiliza o monômero 10-MDP, apresenta vantagens significativas, como a conservação da hidroxiapatita na interface dentária e a formação de estruturas nanométricas mais resistentes à degradação. Esse sistema facilita a aplicação clínica ao eliminar a etapa de condicionamento ácido separado, promovendo maior estabilidade ao longo do tempo.
O Dr. Alessandro acrescenta que os adesivos universais, introduzidos em 2011, trouxeram versatilidade ao incorporar o 10-MDP em sua composição. “Eles podem ser aplicados no modo ‘condicionar & lavar’, autocondicionante ou técnica seletiva, sendo indicados para restaurações diretas e indiretas. Além da adesão a metais, mediada pelo 10-MDP, adesivos universais contêm componentes como silano, que promovem adesão a cerâmicas, ampliando sua utilidade”, explica. Ele ressalta que a escolha do adesivo deve considerar estudos clínicos de longevidade e evitar basear-se apenas em propaganda ou custo.
Os sistemas adesivos evoluíram significativamente desde a década de 1990, com melhorias anuais em suas composições químicas. Segundo o Dr. Mário, essas modificações visaram simplificar o uso clínico e minimizar falhas. “A introdução do adesivo universal, com monômero MDP, eliminou problemas de sensibilidade pós-operatória comuns em adesivos de gerações anteriores e aumentou a previsibilidade dos resultados”, detalha.
“Os adesivos universais melhoraram a adesão à dentina e reduziram erros técnicos com menos etapas clínicas. Embora ainda não tenhamos o sistema adesivo ideal, os avanços atuais oferecem resistência, adaptabilidade e resultados estéticos de longo prazo”, reforça o Dr. Alessandro.
Cuidados pós-procedimento e a importância da educação do paciente
Ambos os especialistas enfatizam a importância de orientações pós-procedimento. “Os cuidados com dentes íntegros e restaurados incluem manutenção da higiene bucal, estilo de vida saudável, controle de hábitos parafuncionais como bruxismo e visitas regulares ao Cirurgião-Dentista, afirma o Dr. Mário. Ele destaca que a associação de materiais restauradores adequados com técnicas corretas é essencial para a longevidade das restaurações.
Para o Dr. Alessandro, a prevenção de cárie marginais e fraturas também exige educação do paciente. “Fatores como ingestão de líquidos erosivos e hábitos socioeconômicos também devem ser considerados para garantir maior durabilidade das restaurações adesivas”, conclui.
A adesão consolidou-se como um pilar essencial na odontologia moderna. O progresso dos sistemas adesivos permitiu não apenas a evolução técnica, mas também a expansão das possibilidades clínicas. Para os cirurgiões-dentistas, o conhecimento detalhado sobre os materiais e sua aplicação continua sendo fundamental para garantir resultados consistentes e duradouros.
Por Swellyn França