Espaço Holístico - Se semear maçãs, colherá pêssegos?

Espaço Holístico - 24.11.2025

Se semear maçãs, colherá pêssegos?

“Tuas forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que vão curar tuas doenças.” - Hipócrates
“Tuas forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que vão curar tuas doenças.” - Hipócrates

Mais um ano está terminando. Outro ano vai se iniciar e eu faço uma pergunta: O que você vai fazer com os pacotes que te darão? Nessa época do ano ganharemos uma série de pacotes... De presentes, expectativas, cobranças externas e internas... O que você vai fazer com todos eles?

Receberemos presentes de nossos pais, filhos, dos amigos ocultos, visíveis, dos amores mais secretos e dos que corajosamente assumimos perante nós mesmos e a sociedade.

Embrulhos contendo objetos de nosso desejo, alguns nem tanto, mas todos eles impregnados, esperamos, do melhor que cada um tem a oferecer.

Depois vêm os pacotes de expectativas... Primeiramente os que receberemos de nós mesmos, depois das pessoas com quem nos relacionamos nos mais diferentes níveis e vice-versa.

E finalmente o pacote de cobranças. Ah! As cobranças que nos fazemos a cada final de ciclo, que nos impomos a cada recomeço. Extenuante!

Estes pacotes vão se avolumando diante de nós e o espaço que resta para movimentar-nos livremente fica praticamente tomado.

Vem-me à ideia começar o ano a limpo. Branco total. Não o da cor da roupa. Branco de alma, sem nada escrito, zerado. Em pleno estado de “não mente.” Sem cobranças de qualquer natureza.

Os pacotes que recebemos às vezes nos levam a buscar um caminho dissonante dos nossos desejos mais íntimos, gerando um descompasso entre emoção e realidade, que nos desalinha em relação ao nosso eixo interno.

Construímos estradas sem entender para onde elas nos levam, mas somos o viajante e devemos escolher o caminho. Há que se repensar a rota.

Cada ser humano é único, formado por um conjunto de padrões, crenças e valores, e que necessita de experiências pessoais íntimas e particulares, imprescindíveis para seu desenvolvimento. E ter noção e controle sobre este processo é muito difícil, mas não impossível.

Recentemente li numa entrevista concedida pela escritora Lia Luft, que algumas pessoas, por não quererem encarar o tempo, assemelham-se a carros rodando com os faróis voltados para trás. Achei fantástica esta analogia, utilizada por ela para representar o medo que algumas pessoas têm de encarar o envelhecimento.

Entretanto, podemos aplicar esta analogia a outras situações de nossas vidas, nas quais voltamos nossos faróis, iluminando o que já passou e deixando o porvir escuro e obscuro. Talvez por medo do desconhecido, de correr riscos que podem nos levar a dias mais felizes e de maior realização pessoal. Puro comodismo que não nos deixa sair da zona de conforto, algumas vezes medíocre.

Ampliando o raciocínio, falemos de Hipócrates que nos deixou como legado conceitos magníficos, entre eles o de que o homem tem dentro de si o poder do adoecimento e que “tuas forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que vão curar tuas doenças.”

Não me furtarei em dizer que à medida que vivo mais e mais me convenço de que o pensamento hipocrático é uma verdade absoluta! E que nossos faróis devem estar direcionados para o que há de vir a ser, deixando vivo o contato com a nossa essência, que deve comandar os passos no caminho que queremos trilhar. Haveremos de colher maçãs, se semearmos pêssegos?

Em qual momento da vida rompe-se o lacre que sela a lealdade que juramos diante de nosso mentor, no momento da criação? Quando é que deixamos escapar esse pedaço de nós mesmos, oh! metade arrancada, por entre os dedos?

E vem a pergunta “e agora”?

Portanto, trace uma estratégia e dê um destino a tudo aquilo que vem do meio externo e que não te pertence. Assuma o comando do seu leme, diga sim apenas à voz que vem de dentro de você e determine os critérios que devem reger a sua vida e suas escolhas.

Quanto aos pacotes, coloque cada um deles no devido lugar, respeitando a hierarquia de sua importância, com a certeza de que esta ação será modificadora em sua vida!

E não perca de vista que é no decorrer do tempo que as coisas acontecem, mas o homem é o agente e construtor da sua história. E que o percurso é muito mais rico do que o destino em si.

Você pede que ela te espere, mas a VIDA urge.

Por Dra Maria Lucia Zarvos Varellis
Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, Odontologia Hospitalar e Pós-doc em Biofotônica Aplicada às Ciências da Saúde